A longa e célebre história do gênero Boys' Love reflete a natureza em constante mudança da própria indústria de mangá.
O gênero boys' love está passando por um renascimento recentemente, com muitos títulos novos ganhando destaque e vários títulos mais antigos recebendo atenção renovada. O gênero boys' love tem uma história fascinante e única, evoluindo ao longo de muitos anos para se tornar o gênero que é hoje. De fato, a história do boys' love mostra como a indústria de mangás e animes cresceu, evoluiu e mudou ao longo dos anos.
As primeiras raízes do boys' love remontam a muito tempo, com base na tendência da arte bishōnen. Essa arte geralmente mostra homens andróginos, geralmente com pele lisa e cabelos longos e esvoaçantes. A arte do ilustrador Kashō Takabatake é frequentemente citada como um dos progenitores deste estilo no início dos anos 1900. Suas ilustrações frequentemente mostravam garotos efeminados e bonitos e muitas vezes se pensava que tinham subtexto homoerótico. Essa arte era popular entre mulheres e garotas e era frequentemente usada em revistas voltadas para esse público, sendo a revista Shōjo no Tomo ("Amigo das Garotas") uma das mais populares.
Fire! de Hideko Mizuno |
Isso inspiraria massivamente a cena independente e, eventualmente, seria assimilado ao mainstream. Duas obras são consideradas os primeiros protótipos de boys' love: o romance Lovers' Forest ("Floresta dos Amantes") de Mari Mori (1961), e Fire! ("Fogo") de Hideko Mizuno. Lovers' Forest contava a história de um professor e seu amante mais jovem, enquanto Fire! foi uma série de mangá shoujo (isto é, para garotas) de Hideko Mizuno sobre o rockstar estadunidense Aaron. A história o acompanha enquanto ele passa pelos altos e baixos da vida de músico, incluindo se envolver em alguns cenários sexualmente explícitos.
No início dos anos 1970, toda uma nova geração de mulheres criadoras de mangás entrou na cena do mangá shōjo. Isso levou o gênero a se expandir massivamente, cobrindo novos tópicos, temas e inspirações. Grande parte dessa expansão se deve a um grupo retroativamente denominado 24-nen Gumi ("Grupo do Ano 24"). Este grupo contém lendas como Yasuko Aoike, Moto Hagio e a criadora de Berusaiyu no Bara ("A Rosa de Versalhes"), Riyoko Ikeda. Essa expansão levou à formação de um novo gênero chamado shōnen-ai.
Shōnen-ai, enquanto um subgênero do mangá shojo, tende a apresentar romances emotivos entre garotos andróginos. No entanto, apesar da natureza masculina desses romances, as histórias ainda são voltadas para um público feminino. Dois dos primeiros títulos a serem considerados parte desse então novo gênero foram In The Sunroom ("No Solário") de Keiko Takemiya e The November Gymnasium ("O Ginásio de Novembro") de Moto Hagio.
In The Sunroom de Keiko Takemiya e The November Gymnasium de Moto Hagio |
Por volta dessa época, o termo "yaoi" apareceu pela primeira vez. Yasuko Sakata e Akiko Hatsu são creditadas por criá-lo. Yaoi é uma junção autodepreciativa da frase japonesa "yama nashi, ochi nashi, imi nashi", que se traduz em "sem clímax, sem razão, sem significado", zombando da natureza puramente erótica de muitos desses primeiros trabalhos.
No entanto, apesar dessa origem zombeteira, yaoi logo ultrapassou shōnen-ai como gênero, tornando-se o termo para histórias de romance romântico e sexual masculino à medida que dōjinshis se tornavam mais populares e mais disponíveis. No final da década de 1980, adaptações de anime de obras de shōnen-ai, como Patalliro! estavam sendo lançados em formatos para televisão e doméstico.
Essa popularidade significou que as empresas mainstream rapidamente começaram a contratar criadoras de dōjinshi yaoi para suas revistas, levando muitos trabalhos de fãs a serem transformados em títulos originais e grupos como CLAMP deixando a cena dōjinshi e se movendo para o mainstream. Em 1990, muitas revistas haviam dedicado seções yaoi para atrair diretamente esse novo mercado. Na verdade, entre 1990 e 1995, foram criadas 30 revistas dedicadas exclusivamente a yaoi.
X/1999 do CLAMP |
Nos Estados Unidos, o yaoi decolou no início dos anos 2000 devido aos trabalhos de dōjinshi se tornarem mais acessíveis com a internet, assim como também aconteceu no Brasil. Em 2001, a Califórnia sediou a primeira Yaoi-Con estadunidense, e o primeiro mangá yaoi traduzido oficialmente saiu nos EUA em 2003. Logo o gênero estava crescendo, com mais de 100 títulos sendo publicados nos EUA em 2006, um número que continua a crescer com downloads online tornando o gênero mais acessível do que nunca.
Boys' love tem uma história fascinante, abrangendo diversos movimentos artísticos e eventos sociais. Isso mostra que, embora alguns temas possam existir há muito tempo, o mundo do mangá está constantemente mudando e mudando, com cada nova geração construindo sobre o que veio antes e fazendo algo novo. Também mostra como pequenas subculturas podem se mover rapidamente para o mainstream, redefinindo o meio no processo.
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