A terrível representação HAH de Dragon Ball – e por que ela precisa ser corrigida

 A franquia Dragon Ball, cujo criador, Akira Toriyama, foi revelado hoje ter falecido no último dia 1º de março, é amada por sua longa história e centenas de personagens. Mas a sua representação HAH é decepcionante, para dizer o mínimo.

Dragon Ball é uma das maiores e mais famosas franquias de anime e mangá. Desde que estreou em 1984, a franquia introduziu centenas de personagens, dos mais simples aos mais estranhos. Mas apesar deste elenco enorme, Dragon Ball sempre teve problemas com representação. E em nenhum lugar isso é melhor visto do que no terrível tratamento que dá aos personagens masculinos que são atraídos pelo mesmo sexo.

Dragon Ball teve apenas dois personagens com confirmação de seu status HAH no universo. O primeiro foi General Blue, que estreou no primeiro episódio da "Saga do General Blue" de Dragon Ball. A sexualidade do General é obviamente sugerida quando ele fica enojado com as tentativas de Bulma de seduzi-lo. Na verdade, quando Bulma e Kuririn o acusam de ser 'gay', ele reage de forma muito chocada, como se estivesse tentando (e falhando) esconder sua sexualidade. O que, para muitos fãs, confirmou que esse personagem era de fato 'gay'.

Isso é agravado pelo episódio "Visitante Estranho". Na versão japonesa. Blue é mostrado flertando com um garotinho chamado Obotchaman (imagem abaixo), inclusive se oferecendo para comprar roupas para ele. No entanto, quando Obotchaman recusou, Blue agiu como um amante desprezado. Na verdade, toda essa cena joga com o tropo terrivelmente desatualizado e ofensivo de que homens atraídos por homens são predadores sexuais. Para piorar, Obotchaman, apesar de ser um andróide, foi construído para parecer um garotinho, e Blue não estava ciente de que ele não fosse um humano de verdade (e mesmo se estivesse!), apresentando-o como um pedófilo.

Além disso, a personalidade geral do General Blue é construída em torno de vários estereótipos homossexuais ofensivos. O mais notável é que ele é muito afeminado, até mesmo usando palavras e frases japonesas normalmente reservadas para mulheres. Pior ainda, o General Blue é fortemente inspirado pelos oficiais nazistas. Isso é visto em seu comportamento e aparência geral, com seu uniforme semelhante aos usados pelos oficiais nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. Ter um dos poucos personagens obviamente codificados 'gays' sendo constantemente ridicularizado e fortemente insinuado como nazista é altamente ofensivo, especialmente quando nenhum outro personagem 'gay' está presente na história para contrabalancear isso.

O outro personagem 'gay' mais que implícito na série é Otokosuki. Durante a "Saga do Mundo Pacífico", Otokosuki (em japonês, otoko-suki [男 好き] significa "eu gosto de homens") entra no 28º Torneio Mundial de Artes Marciais. Quando enfrenta Trunks, ele fica obviamente atraído por ele. Otokosuki até prometeu não machucar ou danificar o rosto de Trunks, o que deixa Trunks extremamente desconfortável. Além disso, no anime, Goten se refere a Otokosuki como “não normal”. Um soco em sua óbvia codificação homossexual. Assim como o General Blue, Otokosuki brinca com estereótipos, tendo toques de afeminação e se vestindo como um membro do Village People. E este é outro exemplo de personagem codificado 'gay' agindo de maneira predatória.

Claro, deve ser lembrado que Dragon Ball é uma franquia mais antiga. A percepção pública das pessoas que amam o mesmo sexo (AMS), especialmente dos homens que amam homens (HAH), é muito diferente da que era nas décadas de 1980 e 1990. Além disso, a forma como o público espera que os personagens minoritários sejam tratados mudou drasticamente desde então. Hoje esse tipo de personagem não seria tão aceito. Portanto, embora essas representações sejam terríveis e indesculpáveis, elas devem ser encaradas como produtos de seu tempo e exemplos de por que os criadores precisam ter cuidado ao decidir retratar determinados grupos.

Dragon Ball é uma franquia lendária e uma das franquias de anime e mangá mais pioneiras de todos os tempos. Essas representações, embora ofensivas, não prejudicam o legado da série ou o trabalho investido nela. No entanto, é uma pena que os únicos personagens 'gays' joguem com estereótipos depreciativos e só existam para serem ridicularizados. Em um universo tão grande como o de Dragon Ball, há espaço para um novo personagem HAH, que não se baseie em estereótipos horríveis e ofensivos.

Infelizmente com o recente falecimento de Akira Toriyama, o criador de Dragon Ball, dificilmente veremos apresentado algum, nem mesmo que apenas como personagem de curto prazo ou de fundo. Talvez isso jamais aconteça e o legado de Toriyama na representação HAH em Dragon Ball tenha sido somente esses dois personagens 'gays' desprezíveis.

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