A ideia de Superman amar outro homem começou a tomar forma há dois anos. Jon Kent, que teve o título de Superboy quando criança e adolescente, foi o próximo na fila para se tornar Superman — assumindo o lugar de seu pai, Clark Kent, que estava deixando a Terra sob a proteção de seu filho.
Mas o que esse novo Superman representaria?
Jon Kent era a cara cuspida e escarrada de Clark — e os escritores e editores da DC Comics decidiram que tê-lo como um espelho de tudo que seu pai tinha sido por mais de oito décadas seria uma oportunidade perdida. A DC viu isso como uma chance de reimaginar o super-herói de todos os super-heróis.
Então, no mês passado, no Dia de Sair do Armário (National Coming Out Day), a DC anunciou que o novo Superman era 'bissexual'. Foi divulgada uma imagem onde Jon compartilha um beijo com Jay Nakamura, que era seu amigo e agora é claramente algo mais. Esse beijo se tornou oficialmente canônico na terça-feira passada, 16 de novembro, com o lançamento da quinta edição da série solo de quadrinhos de Jon Kent, "Superman: Son of Kal-El".
"Foi uma oportunidade de fazer algo diferente, algo inédito. E ter este Superman representando pessoas que não foram representadas antes e não foram capazes de se ver no Superman," disse Tom Taylor, que escreve a série de Jon Kent, que é principalmente ilustrada por John Timms. "Apresentar algo assim [para a DC] é um pouco assustador. Você vai, eles vão seguir por esse caminho? Porque, historicamente, eu tive personagens queers apagados ou rejeitados [em outras editoras]. Mas houve uma mudança real, uma mudança muito bem-vinda nos quadrinhos."
O anúncio foi recebido com sarcasmo por alguns políticos conservadores. Mas Taylor diz que tem sido inundado pela cobertura predominantemente positiva, relembrando mensagens de esperança que recebeu de fãs que lhe disseram que agora encontraram forças para se abrirem para suas famílias ou que estão esperançosos de que se abrirão no futuro.
"São essas pessoas de todo o mundo, de tantos países onde não se sentem seguras em se assumir, mas ainda assim queriam me informar que este momento tornou suas vidas um pouco melhores ou tornou quem eles são um pouco mais fácil," disse Taylor.
Super-heróis AMS (amantes do mesmo sexo) não são novidade nas duas grandes editoras de quadrinhos, DC Comics e Marvel Comics. Na DC, Alan Scott, o Lanterna Verde original, foi revelado amante do mesmo sexo em 2012. Em agosto deste ano, Tim Drake, o Robin dos anos 1990 e o terceiro dos quatro Garotos Prodígios a lutar ao lado de Batman, revelou-se atraído por um amigo. Jackson Hyde, aliado do Aquaman e também conhecido como Aqualad, é andrófilo. Harley Quinn, talvez a personagem mais popular da DC agora, teve amor pelo Coringa e agora pela sua companheira femme fatale Hera Venenosa. Personagens AMS da Marvel incluem America Chavez; Wiccano e Hulkling; e os membros dos X-Men Homem de Gelo e Estrela Polar.
Mas nenhum deles é Superman, parte da "trindade" de super-heróis de elite da DC junto com Batman e Mulher Maravilha.
Assim como os heróis 'heterossexuais' da DC não são definidos por sua sexualidade, Taylor quer ter certeza de que a mesma cortesia seja dada ao novo Superman da DC. É por isso que Jon e Jay se beijam na quinta edição, e não quando a série estreou em julho.
"Em primeiro lugar, eu queria estabelecer [Jon Kent] como Superman," disse Taylor. "Eu não queria que a narrativa fosse que a DC Comics cria um novo Superman [bissexual]. Eu queria que o Superman [mais tarde] fosse assumido, porque... isso é muito mais poderoso. A próxima edição [N/T: a quinta] não será um grande discurso sobre isso. O beijo é só uma coisa que acontece nos quadrinhos."
Além disso, este Superman não é apenas um campeão das causas HAH — edições anteriores incluíram seu ativismo sobre mudanças climáticas e imigração.
A editora-chefe da DC Comics, Marie Javins, trabalhou na história de Jon Kent desde que ela editou sua estreia — a história em quadrinhos "Convergence: Superman #2" de Dan Jurgens. Ela diz que foi um dia memorável quando o editor da DC Comics, Jim Lee, levou a notícia da revelação de seu novo Superman para chefes da Warner Bros. e foi recebido com nada além de apoio. Foi a confirmação de que essa nova direção faz sentido para um personagem que representa uma geração que está disposta a dar voz às suas crenças.
"Gênero e sexualidade são muito mais fluidos para os jovens de hoje. Nossos fãs sabem disso. Nossos revendedores sabem disso. Nossa equipe sabe disso. Não é como se estivéssemos todos perdidos nesta pequena bolha e não conhecêssemos jovens de 20 anos," disse Javins. A sexualidade de Jon Kent "faz todo o sentido no contexto do mundo em que ele vive."
A mudança do Superman é parte de uma tentativa maior de diversificar a trindade da DC, junto com a nova Mulher Maravilha brasileira, Yara Flor, e o Batman negro, Jace Fox. Javin observa que é a maior mudança no trio desde a década de 1990, quando Superman morreu e foi substituído por quatro outros, e também houve novos nomes para Batman e Mulher Maravilha. Mas enquanto esses novatos eram substitutos temporários, a nova trindade da DC construirá seus legados ao lado dos famosos originais.
"É uma grande oportunidade para reinventarmos a roda sem destruir a roda antiga. Estamos apenas construindo sobre coisas que já existem," disse Javins. "Ainda temos nossos personagens clássicos que todos podem ler. E para mim isso é muito importante. Você não quer pegar alguém que foi uma certa pessoa por toda a vida e depois imprimir seus próprios valores nesse personagem. Você quer ter novos personagens onde haja uma evolução mais orgânica de sua personalidade."
Taylor diz que o presente deste novo Superman será sobre lutar por "verdade, justiça e um mundo melhor" e eventualmente revelará atualizações sobre sua vida amorosa para aqueles que são próximos a ele, incluindo o seu melhor amigo, Damian Wayne, que é filho de Batman e o atual Robin.
"O lance dele é ser aquele que representa todos," disse Taylor. "Todos os que são oprimidos. Todo mundo que é sub-representado. Todos que precisam dele. Ele estará lá."
Fonte: The Washington Post
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