30 junho 2024

The Crooked Man: o controverso conto da Playboy em que homoafetividade é a norma

Men loving men in the 1950s - gay vintage

 Quando a superpopulação afasta o mundo da heterossexualidade, os homossexuais oprimem a minoria heterossexual e as relações entre homens e mulheres tornam-se ilegais.

O conto de Charles Beaumont (1929-1967) "The Crooked Man" ("O Homem Torto", numa tradução livre), publicado pela revista masculina de nu feminino Playboy em 1955, apresenta um futuro distópico [ou, para nós, seria utópico?] em que a heterossexualidade é estigmatizada da mesma forma que a homossexualidade era então [e ainda continua sendo em muitos lugares do mundo], com pessoas heterossexuais vivendo furtivamente como 'gays' e 'lésbicas' pré-Stonewall. Na história, um homem heterossexual conhece sua amante em um bar de orgia 'gay' chamado The Phallus ("O Falo"); eles tentam fazer sexo em uma cabine com cortinas (ela vestida de travesti masculino) e são pegos.

Men loving men in the 1950s - manly love - gay vintage
No futuro distópico de "The Crooked Man", o estigma da orientação sexual é revertido. A heterossexualidade era proibida — aparentemente, como medida para reduzir a superpopulação. "Hétero" é xingamento, e eles, não nós, são chamados de "queers", palavra ofensiva em inglês que quer dizer "estranho, bizarro, desviado". Nesta sociedade “iluminada”, as relações homoafetivas são mandatórias, os heterossexuais vadios são presos ou “curados” e as crianças nascem em laboratórios. Ao que tudo indica, “The Crooked Man” gerou polêmica. Hoje, esse conto fornece informações valiosas sobre os dias anteriores a Stonewall.

Hugh Hefner (1926-2017), o fundador da Playboy, quando morreu aos 91 anos deixou para trás um legado polarizador, e muitos defensores dos direitos homoafetivos aplaudiram o seu papel na revolução sexual — especificamente quando se tratava de publicar uma história controversa quando ninguém mais o faria.

Em 1955, apenas dois anos após fundar a Playboy, Hefner publicou o conto "The Crooked Man", de Charles Beaumont, uma peça altamente controversa para a época.

A história retratava um mundo no futuro onde a maioria da população é homo e os homens héteros são perseguidos. Foi rejeitado por várias publicações, incluindo a revista masculina Esquire, mas Hefner decidiu publicá-lo na Playboy.

Hugh Hefner
Muitos leitores não ficaram satisfeitos e Hefner recebeu uma enxurrada de cartas iradas. Mas ele não deu a mínima; na verdade, ele defendeu o conto.

Em resposta às cartas, ele escreveu: “Se era errado perseguir heterossexuais numa sociedade homossexual, então o inverso também era errado”.

Este foi um dos primeiros sinais do compromisso de Hefner com os direitos civis e homoafetivos. Ao longo de sua vida, ele expressou seu apoio ao casamento entre pessoas do mesmo sexo e à igualdade racial.

Em um artigo de 2009 no Daily Beast, ele disse: “Sem dúvida, o amor em suas diversas permutações é do que mais precisamos neste mundo. A ideia de que o conceito de casamento será manchado pelo casamento entre pessoas do mesmo sexo é ridícula. Os heterossexuais não têm se saído muito bem sozinhos.”

Fonte

Charles Beaumont
Você pode ler o conto aqui (em inglês).

Charles Beaumont foi um autor estadunidense de ficção especulativa, incluindo contos nos subgêneros de terror e ficção científica. Ele serviu ao exército nos últimos anos da Segunda Guerra Mundial e teve a sua primeira estória publicada em 1950, e também escreveu para TV e cinema. Não consegui identificar sua sexualidade, nem se teve esposa, mas ele teve um filho chamado Christopher. Beaumont morreu aos 34 anos de uma doença degenerativa (acredita-se que foi doença de Alzheimer ou doença de Pick, ou as duas juntas), e seu filho disse que ele parecia ter 91 anos ao falecer. Ele literalmente morreu de velhice aos 34.

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