Exodus (Bennet du Paris) é um dos mutantes mais poderosos da Marvel e por muito tempo um dos maiores inimigos dos X-Men. Agora um dos membros do Conselho Silencioso, o corpo governante de Krakoa, e lider espiritual da raça mutante, foi revelado recentemente que ele e seu melhor amigo Eobar Garrington, o Cavaleiro Negro do tempo das Cruzadas, podem ter tido uma relação ainda mais profunda cujos sentimentos continuam ardendo no coração do mutante imortal mesmo mil anos depois.
A história de fundo de Exodus é quase inteiramente confinada a uma one-shot muito obscuro de 1996, Black Knight: Exodus, de Ben Raab e um jovem Jim Cheung (logo no início de sua carreira como desenhista e já fazendo excelentes trabalho — não é de admirar que ele tenha se tornado um superastro). Por alguma razão, esta história não traz nenhum indício das ações específicas ou mesmo das motivações do jovem Bennet du Paris, além de uma religiosidade simplista, ao participar das Cruzadas; em vez disso, ele é motivado pela promessa de uma busca por um tesouro escondido no deserto egípcio e seu vínculo íntimo ("mais próximo que um irmão") com o homem que sempre parecia ser seu único amor verdadeiro, o Cavaleiro Negro Eobar Garrington, por quem Exodus ainda mantém acesa uma chama solitária e sem esperança em seu coração — e por cujo destino mortal, séculos atrás, ele continua a sentir intensa culpa (como veremos mais abaixo ao falar de Immortal X- Men #6 [set./2022]).
Muitos X-fãs atuais são grandes fãs do Exodus agora, o que fala sobre o gênio do autor Kieron Gillen mais do que qualquer coisa que o personagem tenha mostrado anteriormente — embora, claramente, sempre tenha havido o potencial; Gillen apenas aproveitou como ninguém antes. Escritores anteriores parecem ter ficado presos à ideia de que um antigo e pio cruzado deve necessariamente ser apenas um pedaço de pau enfiado na lama. Que autolimitação! Claro, a maioria dos escritores de quadrinhos dos anos 90 não eram exatamente contadores de histórias dinâmicos.
Bennet du Paris foi um cruzado francês do séc. XII |
A edição começa com Exodus se perguntando por que ele está perdido em um flashback do século XII (após o cerco de Jerusalém em 1099) — uma memória de quase morrer no deserto, seu primeiro encontro com outro mutante: "Estou a meia milha aquém de renascer. O Apocalipse espera por mim." Ele ainda é apenas Grão-Duque de Paris (Grand Duc du Paris), mas seu novo mestre, cujo nome de fato significa "Revelação", inspirará o jovem a adotar seu próprio nome greco-bíblico, "Exodus" ("Êxodo"), originalmente referindo-se a uma expedição militar, procissão solene ou morte ou partida — o último significado aqui tornando-o apropriado para a tradução grega do título do livro judaico da Torá contando sobre a fuga dos israelitas da escravidão egípcia.
O encontro de Bennet com a Força Fênix |
Avançando agora para o tempo presente, logo após a página 9 de A.X.E.: Judgment Day #1 (jul./2022), onde Tempestade está prestes a partir de Arakko (o nome mutante do planeta Marte) para Krakoa ao chamado de Sina, esposa de Mística, para uma reunião do Conselho Silencioso sobre sua terrível visão dos Eternos, minutos antes do ataque do Uni-Mente (Uni-Mind) — que chega no meio desta edição e faz com que Exodus se perca em suas memórias profundas. Essa aflição mnemônica dele nunca foi realmente explorada, pelo menos não com esse nível de atenção, e ei, mesmo se você ainda não for fã do Exodus, esta edição formalmente perfeita o tornará difícil de resistir como um soldado silenciosamente de coração partido da fé mutante.
Para provar sua lealdade ao seu novo mestre, Apocalipse ordena Exodus matar o Cavaleiro Negro, mas o amor entre Bennet e Eobard foi muito mais forte, embora levasse a um fim trágico |
Black Knight: Exodus — A história de Exodus
Sensivelmente, então, Gillen se baseia fortemente na única história que apresenta um Exodus do Universo Marvel pré-moderno, ainda: a one-shot Black Knight: Exodus (Cavaleiro Negro: Exodus) de 1996 de Ben Raab e Jim Cheung. O Cavaleiro Negro Dane Whitman e a companheira Vingadora e aspirante a amante Sersi (uma dos Eternos) estavam procurando um caminho de volta para casa, mas de alguma forma acabaram voltando no tempo de quase mil anos atrás — perto de Akkaba, a antiga cidade egípcia e local de nascimento de En Sabah Nur, o Apocalipse (vários milênios antes, embora ele apareça aqui também). No entanto, de acordo com o então jovem Bennet du Paris, eles estão "no interior da Palestina".A consciência ou espírito de Dane pousa no Cavaleiro Negro da época, Eobar Garrington — que mantém o controle e a consciência primária enquanto ainda se sente profundamente desorientado e desancorado de sua realidade. Sersi tem que gastar um bom tempo fazendo Dane emergir como a persona dominante; o truque era ela beijá-lo e, assim, "persuadir" a alma de Eobar de seu corpo, o que "concede a ele a paz eterna que ele lutou a vida inteira para alcançar". Então: eutanásia? Sua alma pacificamente expressa sua gratidão. Mais importante, ele deu permissão a ela com sua corajosa disposição de se sacrificar para que seu descendente, Dane, pudesse viver.
Bennet diz que desde menino ele era diferente das outras crianças não só por fora, mas também bem no fundo do coração, uma leitura que reverbera em muitos de nós |
Assim começa a tentativa de Apocalipse de seduzir Bennet para seu lado como um servo poderoso, chamando-o de Exodus.
Procurando o amigo do peito de Eobar, Dane (ainda possuindo o corpo de Eobar) e Sersi são capturados e levados para Akkaba, onde Exodus já aparece como o homem que conhecemos hoje. No entanto, ele regurgita impensadamente o darwinismo social de seu mestre, na verdade apenas gostando de ser superpoderoso. No entanto, depois de receber a ordem de matar o Cavaleiro Negro, ele se recusa, julgando Apocalipse nada mais que um "deus falso". Seu antigo mestre (conhecido na época como o "Faraó Eterno") roubou os poderes recém-ativados de Bennet e colocou seu servo desobediente em um coma que duraria um milênio — até que Magneto encontrou o templo abandonado onde ele ainda estava (o que nunca foi numa história em quadrinhos até a breve aparição em Immortal X- Men #5).
Mas a maior diferença entre o Exodus medieval de Gillen e o de Ben Raab é 1) a religiosidade sincera que está faltando em Black Knight: Exodus; aquela história de origem lutou em sua simpatia por um personagem que em 1996 ainda era um vilão. E 2) não havia sentido ali de que Bennet e Eobar eram algo mais do que amigos (cuja base para amizade Ben Raab nem estava interessado em desenvolver), mas quanto mais você olha para a história de Exodus — e está até em seu porte majestoso — é óbvio que Exodus é naturalmente um de nós. E a maneira como Gillen retrata esse lado do personagem é deliciosamente franca e sutil.
Fé e Tormento Imortais — Um lindo garoto tristeÉ estranho, porém, que Exodus não se veja como a rocha na mão de Davi (ao matar Golias)? Bem, talvez Êxodo esteja nos lembrando, e a si mesmo, que ele já foi um cruzado movido pela promessa de saque secreto — e então foi "tentado pelo diabo" (Apocalipse) a matar o Eobar, "o homem que era mais próximo do que um irmão para mim." Em outras palavras, o remorso de Exodus continua vivo, como se ele tivesse matado seu amor e sido manchado pela marca de Caim.
Esse remorso é mais explicitamente mostrado na edição Immortal X- Men #6 (set./2022).
O destaque desta edição, que traz a arte do brasileiro Lucas Werneck, tem apenas um pouco a ver com Sebastian Shaw, outro membro do Conselho Silencioso, quando revisitamos a paralisia ou confusão temporal de Exodus em Judgment Day #1/Immortal X-Men #5. Como vemos aqui, acontece que foi também quando Exodus recebeu seu julgamento — o que é muito incomum, pois todos os outros também compartilham da experiência, enquanto o normal nesse evento é cada pessoa receber seu julgamento individualmente, sem a participação de outros.
A visão de Exodus compartilhada pelos demais do conselho em seu julgamento apresentou o Progenitor, o Celestial que estava executando o julgamento, surgindo como um enorme demônio sobre a grande mesa redonda em um turbilhão de fogo segurando preso em sua mão a alma de Eobar Garrington. Eobar gritou pela ajuda de Bennet, clamando estar pagando no inferno pelo pecado de ter dado sua própria vida para ajudar o melhor amigo no século XII, e que, se Bennet tomar o lugar dele, ele poderá ser libertado do tormento eterno. O coração de Bennet está em pedaços, como podemos ver pela expressão do seu corpo, mas, como sempre, ele põe a fé na frente de suas emoções, ainda que essa seja a maior dor que ele carrega consigo. "Eu te amo, mas o meu trabalho continua," ele diz para Eobar. "Esta igreja mutante ainda está em seu berço. Eu não posso me sacrificar por outro--mesmo que seja você". A fé milenar de Exodus, que se vê como o papa da nova igreja mutante e Hope Summers, avatar da Força Fênix, como a sua messias, é o que o ajuda a seguir em frente, apesar de tudo. Ainda assim, ele tenta alcançar a mão daquele que ele mais ama — não trocar de lugar com ele não significava que ele não iria tentar salvá-lo. "Você não irá ficar com ele, demônio," bradou. "Vou arrancá-lo do seu inferno".A vida de Bennet estava realmente em perigo aqui? Independentemente disso, ele passou no julgamento, provavelmente porque, como vimos anteriormente, ele é guiado por suas crenças sólidas, ainda que (zelosamente) heterodoxas, mais do que por seu coração, apesar da dor que a auto-negação traz.No entanto, Shaw parece salvá-lo do inferno (ilusório?) do Progenitor, o que fala não do heroísmo e nudez total de Shaw — mas do fato de que ele ainda acredita ser capaz de dar xeque-mate em seu caminho para tomar as rédeas de Krakoa, por meio de suas negociações obscuras. Ele não pode "correr o risco de perder uma de nossas maiores armas".
Infelizmente, depois disso não houve mais até o momento referências à relação entre Exodus e Garrington. Também tenho vasculhado as redes sociais de Kieron Gillen para tentar descobrir alguma pista sobre isso, mas ele tem se mantido silente a respeito. A única declaração de um autor da Marvel afirmando que Bennet e Eobard eram de fato apaixonados um pelo outro, ainda que não fosse permitido na época medieval e por causa da fé deles expressar isso fisicamente, foi Anthony Oliveira no episódio 061 do podcast independente CEREBRO, "Bennet du Paris (feat. Anthony Oliveira)", mas Oliveira (que co-escreveu a saga Empyre, na qual tivemos o histórico casamento de Hulkling, então proclamado Imperador do Espaço, e Wiccano, e também a revelação do namoro de Célere com Prodígio) não tem nenhuma relação direta com as estórias de X-Men que contam a história de Exodus.
Então ainda não podemos bater o martelo, mas vivemos numa época em que migalhas de representação HAH não são mais aceitas, e o autor Kieron Gillen, ele mesmo HAH, é bem conhecido por colocar personagens amando o mesmo sexo em diversas histórias em quadrinhos (por exemplo, foi ele quem revelou Prodígio e Marvel Boy como não-heterossexuais na segunda temporada da HQ Young Avengers) — o que quer dizer que todas essas declações de amor entre Exodus e o Cavaleiro Negro do século XII em edições recentes não devem ter sido colocadas lá por nada. Algo está em andamento aí, e a qualquer momento teremos a confirmação.In a new CEREBRO animatic (@cerebroanim) by @KrakoaWelcomes, the man who will be Exodus has an unfortunate encounter with Sersi the Eternal! Audio from Episode 61 on Bennet du Paris feat. @meakoopa: pic.twitter.com/GoZjhCOKb2
— CEREBRO (@CerebroCast) August 3, 2022
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