A modernização de Fade (Vapor no Brasil) da Milestone (DC Comics), herói HAH da HQ Sindicato de Sangue (Blood Syndicate) original, pode ter criado mais um problema do que uma solução.
Desde que a companhia começou na década de 1990, a Milestone Entertainment tem sido uma empresa de quadrinhos progressista e com visão de futuro. Fundada principalmente por minorias, a empresa pretendia introduzir uma diversidade mais orgânica e realista nos quadrinhos, apresentando personagens de todas as esferas da vida. Isso incluiu a diversidade não apenas entre minorias raciais, mas também sexuais.
O princípio original continua a ser refletido na atual linha de quadrinhos Milestone 2.0, mas um esforço para refletir melhor o mundo moderno ainda mais progressivo pode não funcionar tão bem quanto os criadores pretendiam. O relançamento de Blood Syndicate leva o personagem Fade em uma direção muito diferente, mas o resultado é algo potencialmente menos sutil que impede que várias oportunidades narrativas perdidas pela série original sejam corrigidas.
Fade era um "gay" enrustido no universo Milestone original
Introduzido na primeira edição do Blood Syndicate original, Fade, como o resto do elenco, era um membro veterano de gangue. Como seus companheiros, Carlos Quiñones (seu verdadeiro nome) esteve presente em um comício de gangues na Ilha de Paris, no qual o experimental "Suco Quântico" ("Quantum Juice") deu superpoderes a muitas pessoas. Seu codinome nome "Fade" ("Vapor" no Brasil, mas cuja verdadeira tradução seria algo como "Desvanecer") veio do fato de que seus poderes permitem que ele fique intangível, enquanto ganha uma espécie de aparência fantasmagórica ao fazê-lo.
Na nova versão Fade aparentemente não é apaixonado pelo amigo ele se enrola todo para explicar ao namorado Eddie o que o amigo faz pelado na casa dele |
A orientação afetossexual de Fade era, como muitos elementos da Milestone, um pensamento incrivelmente avançado. Ele não apenas era um homem de cor que era "homossexual" em uma época em que o gangsta rap e a música caribenha em particular eram incrivelmente homofóbicos, mas também vivia com medo de ser automaticamente colocado em desacordo com seus companheiros de equipe se sua sexualidade fosse descoberta. Isso dava a Fade e à equipe uma nuance incrível. Infelizmente, ao tentar atualizar o personagem para o mundo moderno, Milestone 2.0 pode ter perdido um pouco desse potencial.
Carlos sobre o herói Ícone: "Aquele homem é uma cascata de chocolate e eu ficaria muito feliz em me afogar." |
Na nova história em quadrinhos de Blood Syndicate na continuidade Milestone 2.0, Fade é um homem abertamente "gay", fazendo comentários sexuais sobre o quão atraente ele acha o heróico defensor de Dakota City, Ícone (Icon). Na verdade, o escritor da HQ, Geoffrey Thorne, ainda deu a ele um namorado na edição #3, um homem com poderes místicos chamado Eddie, codinome Silke. Este é um forte contraste com a forma como ele foi originalmente retratado e, sem dúvida, muito mais reflexivo do mundo real. Embora isso seja certamente mais inclusivo, falta muito da nuance da encarnação original, especialmente porque grande parte da luta emocional com a qual Fade lidou nunca foi realmente resolvida.
Fade estampou uma das capas variantes do DC Pride 2022 em junho passado desenhada pelo artista brasileiro Mateus Manhanini |
Isso novamente se relaciona com a cultura dominicana, uma com fortes normas de gênero e machismo que pode fazer o pai de Fade vê-lo como uma decepção. A cultura dominicana ainda está presente na nova série em virtude de Flashback sempre falando espanhol em meio ao inglês, por isso é curioso que as divisões entre cultura e orientação sexual pareçam ser ignoradas de maneira leviana. As oportunidades perdidas para Fade e o Sindicado de Sangue como um todo são abundantes, enquanto o que resta em seu lugar parece genérico na melhor das hipóteses.
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