Aquiles e Pátroclo: Videogame 'Hades' conta a história de amor da maneira certa

 Entre muitas histórias de amor do mesmo sexo que fogem disso ou se definem pela dor, a relação de Aquiles e Pátroclo se destaca.

As histórias de amor do mesmo sexo em videgames geralmente vêm em dois sabores: aquelas que são definidas apenas por serem relações do mesmo sexo (como se não houvesse nenhuma outra dimensão nelas) e aquelas que são como relacionamentos heteronormativos em que por acaso o casal são do mesmo sexo (e não os sentimos como verdadeiros). Essa mídia ainda tem um longo caminho a percorrer quando se trata de retratar uma gama diversificada de histórias de amor do mesmo sexo que parecem críveis e distintas umas das outras.

É isso o que torna a história de amor em Hades entre Aquiles e Pátroclo tão especial. É uma tragédia clássica que é definida por um desejo intenso e uma vontade de arriscar tudo, e que é baseada em um diálogo confiável.

Pátroclo

A história de Aquiles e Pátroclo existe bem antes de Hades existir. Um enredo chave na Ilíada de Homero, a história diz que Aquiles se retirou da guerra encabeçada pelo rei Agamenon contra Troia depois que o ganancioso rei o insultou. Enquanto Aquiles ficava amuado em sua tenda, Pátroclo vestiu a armadura de Aquiles e liderou seu exército em seu lugar e, embora tenha feito progresso contra as forças de Troia, foi morto em um duelo pelo campeão troiano, Heitor.

Como Aquiles e Pátroclo se importavam um com o outro profundamente, a morte de Pátroclo deixou Aquiles furioso, levando-o de volta ao campo de batalha para matar Heitor, embora isso levasse também à sua morte conforme profetizado. Não é declarado explicitamente na Ilíada que eles eram amantes, mas há o suficiente no texto para sugerir um relacionamento sexual e profundamente romântico.

Hades continua a história deles após suas mortes. Aquiles fez um pacto com o deus titular dos mortos para que ele servisse na Casa de Hades em troca da concessão de entrada de Pátroclo no Elísio (ou Campos Elísios), um paraíso reservado para os dignos. Esse pacto, é claro, significaria que os dois ficarão separados para sempre. Como Zagreus, o filho de Hades que está tentando escapar do submundo (e também tem seu próprio romance do mesmo sexo no jogo com o deus da morte Tânatos), você descobre essa história ao encontrar e conversar com os dois, muitas vezes transmitindo mensagens entre eles. Eventualmente, você terá uma missão paralela que permitirá que você os reúna, mas na maior parte do jogo eles são deixados a refletir sobre o que causou sua separação e por que cada um deles agiu da maneira que agiu.

Aquiles

O que Hades faz é deixar claro para o jogador, explicitamente, que Aquiles e Pátroclo estão em um relacionamento. Em uma indústria que considera adequada a "isca gay" (veja "Queerbaiting") parando nas insinuações e não se comprometendo com a confirmação na tela, assistir a um jogo apenas dizer, sem rodeios, que esses dois homens se amam é positivamente revigorante. As expressões de seu amor um pelo outro são aqui vistas através das lentes da guerra, com a raiva de Aquiles sendo a expressão-chave que move a narrativa entre eles.

Usando essa raiva como pano de fundo, Hades aplica uma excelente escrita e dublagem para vender a angústia individualizada que Aquiles e Pátroclo expressam. Aquiles se dói de saudade cada vez que fala sobre o que aconteceu entre os dois. Enquanto isso, Pátroclo confia na resignação enquanto se pergunta solenemente se o que Aquiles estava realmente perseguindo era glória em vez de amor.

O que faz esse relacionamento se destacar entre os relacionamentos do mesmo sexo nos jogos são as camadas que estão em ação e o fato de que é ajudado por dubladores habilmente emocionantes, Logan Cunningham (Aquiles) e Ben Prendergast (Pátroclo). Você pode sentir o desejo e a resignação em suas vozes e, quando combinado com a escrita e os temas clássicos em ação, Hades permite que você acredite nessa relação como poucas.

Não há muitos relacionamentos do mesmo sexo em videogames sobre os quais você possa dizer isso. Ter dois personagens definidos com desejos e percepções diferentes das coisas separados em uma tragédia grega clássica resulta em um casal e uma história que se destacam entre os jogos que são muito tímidos para reconhecer a homofilia ("amor entre iguais") dos personagens ou muito ansiosos para construir a narrativa sobre trauma em personagens AMS (amantes do mesmo sexo). A tragédia de Aquiles e Pátroclo funciona em todos os níveis, dando esperança de que romances do mesmo sexo no futuro poderão se tornar mais multifacetados.

Via PCGamesN.