Dead Boy Detectives: Edwin Payne e Charles Rowland em 'Doom Patrol'

 Baseados nos quadrinhos do renomado Neil Gaiman, os Garotos Detetives Mortos Edwin Payne e Charles Rowland compartilham traumas passados que levam sua amizade após a morte para sentimentos ainda mais profundos em Doom Patrol.

Imagine isto: seus amigos são mortos por um assassino intergaláctico. Você pede ajuda e uma ambulância decorada chega. De lá saem uma garota, chamada Crystal Palace, e dois garotos conhecidos como Dead Boy Detectives ("Garotos Detetives Mortos" no Brasil). Eles dizem que seus amigos não estão mortos — apenas mantidos em um plano de processamento burocrático na vida após a morte. Só fica mais estranho a partir daqui.

Charles Rowland (Sebastian Croft, de cabelo castanho) e Edwin Payne (Ty Tennant, de cabelo loiro)

Em uma série que banaliza as verdades absolutas da vida, não é estranho ter personagens que enganam a morte. Doom Patrol (Patrulha do Destino), a série surreal da HBO Max, mostra super-heróis excêntricos que sobreviveram a tudo, desde mestres de marionetes lunáticos a bundas carnívoras (sim!). O fato de eles estarem “mortos” no terceiro episódio da 3ª temporada, apropriadamente intitulado “Dead Patrol” ("Patrulha dos Mortos"), é normal. É quando conhecemos a Agência dos Garotos Detetives Mortos: Edwin Payne (Ty Tennant), Charles Rowland (Sebastian Croft) e sua ajudante psíquica, Crystal Palace (Madalyn Horcher), que resolvem mistérios paranormais.

Charles e Edwyn versão quadrinhos

Baseado nos quadrinhos do selo Vertigo da DC Comics do renomado Neil Gaiman e dos artistas Matt Wagner e Malcolm Jones III, os detetives vibram organicamente com o absurdo da equipe-título. Não muito diferente de como a Patrulha do Destino é uma alternativa sombria à Liga da Justiça, os Garotos Detetives Mortos são macabros The Hardy Boys (os irmãos Frank e Joe Hardy, personagens fictícios que aparecem originalmente em livros de mistério para crianças e adolescentes e depois em diversas outras mídias). Eles resolvem mistérios para os vivos e fazem isso com o nariz empinado. Eles estão mortos. Nada importa no grande esquema das coisas. Ou importa?

O inimigo comum da Patrulha do Destino nem sempre são supervilões, mas seus próprios passados ​​conturbados. Os detetives são igualmente assombrados. As mortes de Edwin e Charles foram apenas o começo de sua história, deixando-os com um trauma que mantém seus espíritos presos à Terra. Através do sofrimento compartilhado, sentimentos mais profundos se desenvolvem entre os garotos.

Edwin e Charles se comportam com indiferença em relação aos vivos, mas quando se trata um do outro, descobrimos o que conta como sua kryptonita. Em “Dead Patrol”, os dois garotos ajudam Larry Trainor, o Homem Negativo (Matt Bomer), um super-herói semimorto mantido vivo por um espectro cósmico, a salvar seus companheiros da Patrulha do Destino. Quando Edwin, o loiro, mostra compaixão pelo medo de água que Charles sente (Charles morreu de hipotermia em um lago gelado), o Homem Negativo sente algo mais entre eles.

Homem Negativo para Edwin: "Eu estava dizendo a Charles antes... Parece que vocês gostam um do outro... Muito."

Edwin morreu em 1916 escondendo seu verdadeiro eu, e Larry se identifica com isso, também tendo sido um homem que ama homens enrustido da década de 1960. Quando Edwin estava vivo, agir de acordo com seus sentimentos seria sua própria sentença de morte quando o amor masculino ainda era crime na Inglaterra e, mesmo um século depois, ele não consegue se livrar da culpa e da vergonha que ainda permanecem com ele. Nada está segurando Edwin agora, exceto o medo de perder seu melhor amigo.

“Não seria normal”, diz Edwin, descartando seus sentimentos.

“Eu costumava pensar assim”, responde o Homem Negativo, “mas é normal. Agora. Quero dizer, não é 1916, sabe?"

Edwin: "Eu não preciso que Charles me proteja."
Charles: "Eu te protegeria mesmo assim, não é?"

Edwin e Charles são interpretados por novatos que não devem ser esquecidos tão cedo. Sebastian Croft, como Charles, é um ator indicado ao BAFTA com créditos em Game of Thrones e Penny Dreadful, e você provavelmente se lembrará dele como Ben Hope, o ex-namorado abusivo de Charlie Spring em Heartstopper; tal experiência em seriados igualmente imaginativos (apenas seu trabalho em Heartstopper foi posterior ao em Doom Patrol) foi uma benção para seu papel no multiverso DC. E Ty Tennant (Tolkien, Guerra dos Mundos), como Edwin, vem de uma nobre casa de atores como filho de Georgia e David Tennant; crescer com o Décimo Doutor de Doctor Who prova que o talento pode vir de família.

Entre Edwin, Charles e Crystal, é Charles quem mantém o trio unido. A abrasividade de Edwin e Crystal segurando vela deixam Croft com um papel difícil como Charles. Croft realiza sua tarefa contrastando o sombrio Edwin de Tennant com inteligência, bravata e humor. Ele é o condutor da história deles, pronto para enfrentar qualquer desafio com uma mochila carregada de armas inusitadas. Com fornecimento otimista de informações perturbadoras, Charles é o proverbial coração pulsante dos Garotos Detetives Mortos.

Charles Rowland e Edwin Payne — e Crystal Palace segurando vela

Quis o destino que um spin-off fosse confirmado! Mas, infelizmente, outros atores foram elencados, algo decepcionante, dada a quantidade de vida (trocadilho intencional) que Tennant, Croft e Horcher injetam em seus personagens. Qualquer outro programa deve ficar verde de inveja por não ter esses três. Sua química pode compensar até mesmo as narrativas mais complexas de existencialismo, espiritualismo e fatalismo. Sua história de fundo detalhada em Doom Patrol, que envolve um demônio fugitivo que guarda as memórias de Crystal Palace, fornece um objetivo óbvio para esses personagens em sua próxima (pós-)vida televisionada.

Como a Patrulha do Destino, os Garotos Detetives Mortos personificam traumas. A jornada deles não é derrotar o bandido, mas encontrar crescimento mesmo quando morto. Edwin morreu em um clima social extremamente preconceituoso, quando expressar o verdadeiro eu era contrário às normas culturais. Tal ódio permanece nele agora e o levou a uma vida após a morte fechado em si mesmo. Mesmo como um fantasma, ele teme a vergonha. O que os Garotos Detetives Mortos revelam é que, se não admitirmos o que nos assusta na vida, não estamos realmente vivendo.

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