01 junho 2023

[Review] O Amor Masculino no DC Pride 2023

dc pride 2023 - variant gabriel picolo

 A DC Comics está de volta para começar o mês do orgulho com DC Pride 2023, que segue o mesmo formato dos últimos dois anos com vários contos apresentando alguns dos personagens HAH (Homens que Amam Homens) mais prevalentes da DC [entre outros, naturalmente].

AVISO: CONTÉM SPOILERS

DC Pride 2023, Lanterna, Red Racer, Flashlight, Velocista Vermelho

"Coração Relâmpago do Amor"

A primeira estória é "Love's Lightning Heart" de Grant Morrison com arte de Hayden Sherman, que se concentra em Hank Hallmark, também conhecido como Lanterna (Flashlight), enquanto ele segue uma pista para resgatar seu amante morto, Ray, também conhecido como Velocista Vermelho (Red Racer). Se você não se lembra bem desses personagens da realidade da Terra 36, relembre a estória do sacrifício do Velocista Vermelho nas páginas de Superman #16 e como o criador dele e de seu namorado Lanterna ficou puto da vida com isso e imaginou como seria possível trazer o romance deles de volta. Desde o início, os lápis e as composições de Sherman são impressionantes e inventivos. A primeira página tem seus painéis envolvendo o relógio do Velocista Vermelho, como se os painéis estivessem contando para trás no tempo. Isso está relacionado à primeira pista que Hank encontra, que é o fato de o relógio do Velocista Vermelho estar correndo para trás. Essas primeiras páginas definem perfeitamente o tema e as apostas da história. Hank corre para resgatar Ray, afirmando que ele está sendo lembrado de que "não fazemos sacrifícios", o que parece um soco no tropo enterre seus 'gays'. Há um claro romance e otimismo na missão de Hank e isso torna a jornada subsequente fácil de seguir, mesmo que o roteiro de Morrison satisfaça seu gosto por tramas quase indecifráveis à primeira vista. Qualquer pessoa familiarizada com o trabalho de Morrison se sentirá em casa aqui, e o reencontro final entre Hank e Ray é tocante e parece merecido mesmo com a curta contagem de páginas da história. Ah, e no final é dito que a estória continuará.

DC Pride 2023, Tim Drake, Robin, Connor Hawke, Green Arrow, Arqueiro Verde

"Ei, Estranho"

A história "Hey, Stranger" de Nadia Shammas é mais uma moldura para Tim Drake e Connor Hawke se encontrarem depois que os dois se revelaram DSR recentemente; Tim como "bi" e Connor como "ace". Depois de solicitar reforços de Damian, Tim descobre que Connor chega e, após uma reunião embaraçosa e da limpeza de uma cena de crime, a raiva de Tim finalmente explode. O diálogo de Shammas faz um ótimo trabalho ao capturar aquela zombaria embaraçosa entre duas pessoas que sabem que uma discussão está por vir e os lápis de Bruka Jones definem a linguagem corporal entre a dupla. Connor e Tim passam a primeira metade da estória sem fazer contato visual, ou mantêm seus corpos ligeiramente afastados um do outro até que a discussão comece. A partir daqui, a ênfase está em Tim e Connor, conforme eles se relacionam com sua luta compartilhada para se assumirem. Como Shammas escolhe uma interação mais íntima e de pequena escala, o roteiro vive ou morre dependendo se o diálogo e as emoções parecem genuínos ou não. Felizmente, eles parecem genuínos, apesar de qualquer controvérsia recente, devido à recente "saída do armário" de Tim. O que está aqui funciona, principalmente quando Tim agradece a Connor por ouvi-lo questionar sua identidade no passado e reconhecer que não estava pronto para compartilhar mais. Esta é uma dinâmica sutil e verdadeira que diferencia esta história das outras. Por fim, as lindas cores de Tamra Bonvillain merecem um destaque, pois fazem a história saltar da página. Além disso, a estória tem o mérito de revelar que Batman assiste a filmes 'gays' como Weekend (2011), que contém nudez masculina e sexo explícito e lhe dá cinco estrelas em sítios de avaliação de filmes — tudo "em apoio a Tim", é claro.

DC Pride 2023, Apolo, Meia-Noite, Apollo, Midnighter

"Aniversário"

O casal Meia-Noite e Apolo luta contra vários fanáticos em "Anniversary" antes de finalmente se verem presos em um protesto prestes a explodir em violência entre ativistas dos direitos 'gays' e contra-manifestantes homofóbicos. Enquanto Apolo se concentra em manter a ordem para proteger as crianças presentes, Meia-Noite fica frustrado e sem esperança com os protestos ao afirmar: "os legisladores estão contra nós". O mediador chega na forma do Lanterna Verde Alan Scott, que lembra Meia-Noite do progresso que manifestantes anteriores alcançaram, incluindo pressionar o governo para financiar pesquisas sobre HIV/AIDS e a igualdade no casamento. Definitivamente, há um momento em que o diálogo de Alan quase soa como uma palestra, mas esse sentimento desaparece em pouco tempo. O roteiro de John Trujillo escolhe enfatizar a importância do protesto e da visibilidade como forma de revidar, levando Meia-Noite a cobrar alguns favores e transmitir uma cerimônia de casamento improvisada entre ele e Apolo para todos os feeds de notícias do planeta (embora eles já sejam casados de verdade também nesta versão atual deles). É um enredo muito simples, mas as apostas e os argumentos claros o tornam revigorante, mesmo que o papel de Alan como mediador não pareça tão progressivo quanto as outras estórias. Infelizmente, achei que a arte não funcionou totalmente com a história, principalmente devido às cores turvas (e Apolo está usando batom??). Não há muito contraste nas páginas, levando a uma história que parece visualmente confusa, apesar da mensagem bastante simplista. Isso resulta em um conto sólido que, em última análise, não perdura muito depois de lê-lo.

DC Pride 2023, Ghost-Maker, Catman, Homem-Gato, Cannon & Saber

"A Dança"

Igualmente simplista, mas no geral mais envolvente é o trabalho em equipe de Ghost-Maker e Homem-Gato (Catman) em "The Dance". O roteiro de Rex Ogle oferece uma cena de luta curta, mas bacana, um monólogo interessante e uma página final muuuito satisfatória. Essa abordagem funciona já que uma contagem limitada de páginas nem sempre dá espaço suficiente para desenvolver um arco tradicional de começo, meio e fim, e Ogle fica satisfeito em visualizar essencialmente um flerte romântico disfarçado de briga. Ghost-Maker assiste Homem-Gato enfrentar dois mercenários (Cannon & Saber, o primeiro casal do mesmo sexo em quadrinhos convencionais) e decide ajudá-lo, pois acha que a morte do Homem-Gato seria um desperdício de sua "arte", ou em outras palavras, seu belo corpo. A arte de Stephen Sadowski é sólida e ele consegue fazer com que seus desenhos de figuras um tanto em blocos pareçam graciosos enquanto lutam. Ogle faz Ghost-Maker narrar toda a história, tornando a ação da dupla menos uma sequência de luta e mais uma sedução ao comparar a luta com uma dança. Apesar de a estória não deixar claro se Cannon e Saber são um casal nesta versão atualizada deles, os momentos finais em que Ghost-Maker fala sobre celebrar corpos "não importa as formas" (já que ele é interessado tanto em homens como em mulheres) enquanto ele se deita nu na cama com o Homem-Gato cria um final memorável.

DC Pride 2023, Superman, Jon Kent, John Constantine

"Minha Melhor Aposta"

O último conto, "My Best Bet", apresenta uma barganha entre John Constantine e Félix Fausto sobre se o golem de Constantine pode ou não derrotar Jon Kent. Há uma boa dose de ação, bem renderizada pela artista Skylar Patridge, mas as cores de Dearbhla Kelly são particularmente adoráveis. Toda a estória é banhada em azuis e vermelhos perfeitamente adequados ao cenário um tanto voltado para o terror. Enquanto Jon falha em derrubar o golem de Constantine, Félix o provoca sobre como sua magia não tem chance de derrubar alguém tão poderoso quanto o filho do Superman. Ao mesmo tempo, Constantine sugere a verdadeira razão pela qual a barganha está ocorrendo, ao mesmo tempo em que rumina sobre como as coisas são mais difíceis para os tipos de "pessoas que os outros desejam esquecer". O roteiro de Christopher Cantwell consegue conciliar todas essas ideias e narrativas conflitantes com precisão, criando uma história verdadeiramente envolvente. A reviravolta final é incrivelmente satisfatória, principalmente para quem se pergunta por que Jon tem tanta dificuldade para derrubar o que parece ser um oponente bastante simplório. É uma ótima história para concluir a antologia, pois aborda a desilusão de Constantine, pois sua barganha é revelada como uma tentativa de salvar a alma de um ex-namorado dele, Oliver (que eu já mencionei aqui no blog, mas com certeza a incrível estória de amor deles merece um artigo à parte), enquanto ainda entrega alguns raios de esperança quando sua jogada termina bem-sucedida. A história não apenas desenvolve Constantine e suas maneiras enganosas de fazer boas ações, mas também a natureza interior de Jon quando ele se permite parecer fraco para ajudar Constantine. Na minha opinião, a coleção termina em sua nota mais alta.


DC Pride 2023
#1 é uma antologia forte com muitos pontos altos que mais do que compensam os pequenos tropeços internos. Há coração, emoção e alegria contidas nas estórias contadas, e, como o prefácio de Phil Jimenez nos lembra, estórias contêm poder e a história de todos merece não apenas ser contada, mas ouvida.

Fonte: Batman News.


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