The Old Guard: Mais de um ano depois ainda nos lembra que o mundo precisa de super-heróis AMS

 Há um ano e dois meses, um dos surpreendentes sucessos de 2020, The Old Guard, estreou na Netflix. Escondido entre o resto da lista de ação relativamente tranquila do gigante do streaming em 2020, o filme poderia facilmente ter passado despercebido pelo radar — indo e vindo como outros títulos menos memoráveis ​​da Netflix. Mas contra as probabilidades, The Old Guard subiu acima de muitos de seus contemporâneos — graças ao poder de uma sonora fanbase que se desenvolveu em torno da inclusão no filme de orgulhosos super-heróis AMS (amantes do mesmo sexo).

Dois meses atrás, pouco depois do primeiro aniversário do filme, The Old Guard finalmente recebeu o sinal verde para uma sequência. É uma notícia bem-vinda e crucial, porque se a mídia de super-heróis em 2021 provou alguma coisa, é que ainda há uma necessidade (e demanda) significativa de filmes como The Old Guard — filmes que afirmam que existe e deve haver um espaço no gênero para super-heróis DSR ([da] diversidade sexual e romântica) protagonistas de franquias.

Embora antes do lançamento do filme a maioria das impressões de The Old Guard pudesse ser atribuída ao "veículo de ação Netflix Charlize Theron", assim que o filme realmente foi lançado na Netflix os fãs rapidamente aderiram a ele, criando uma comunidade apaixonada e sonora que o colocou no Top 10 dos filmes originais mais assistidos da Netflix. É certamente a fanbase mais significativa a surgir em torno de filmes de ação originais da Netflix, e tudo isso graças à sua vontade de apresentar super-heróis AMS na frente e no centro. Fãs (e críticos) elogiaram especificamente a representação de Joe Jones (Marwan Kenzari) e Nick "Nicky" Smith (Luca Marinelli) no filme, que se destacam como os primeiros super-heróis HAH protagonistas em um grande sucesso comercial — vencendo a Marvel e seus mais de 20 filmes com o proverbial soco.

Menciono a Marvel porque (apesar das promessas de Kevin Feige de que um super-herói DSR está no horizonte para um filme da Marvel), 2021 viu (finalmente) a primeira menção da franquia de um personagem DSR que não era um papel coadjuvante sem nome, por meio da revelação da "bissexualidade" e "fluidez de gênero" de Loki no terceiro episódio da série de mesmo nome da Disney+. Embora a revelação seja certamente motivo de comemoração, é importante notar que ainda era apenas uma única fala, e os criadores deixaram claro que a série não exploraria sua sexualidade e gênero em mais profundidade naquela temporada (se é que haverá outras). É um progresso, com certeza, mas continua a tendência de longa data de franquias aludindo ou insinuando que os super-heróis são AMS sem perseguir qualquer relacionamento do mesmo sexo na tela.

Em comparação, The Old Guard também é um filme de super-heróis baseado em quadrinhos (é baseado em uma história em quadrinhos de Greg Rucka de 2017). O filme tira seus personagens AMS do material de origem, mas em vez de cortar totalmente as histórias AMS ou reduzir a representação a uma única fala que pode ser facilmente editada para mercados mais conservadores, o filme abraça de coração seus heróis AMS — e floresceu com fãs por causa disso. Nicky e Joe são afetuosos, flertadores e compartilham uma série de beijos, incluindo um grande beijo romântico que vem após o monólogo apaixonado de Joe e a declaração de amor por Nicky depois de serem ridicularizados por bandidos homofóbicos. Não é recatado, tímido ou de forma alguma relutante em celebrar o amor de Nick e Joe — amor masculino — algo que uma série de outras grandes franquias fariam bem em copiar.

Mais do que isso, é que Nicky e Joe também não são os únicos personagens AMS da franquia. Embora não seja explorado no primeiro filme de The Old Guard, uma continuação em quadrinhos recente, The Old Guard: Force Multiplied (em breve uma matéria especial sobre isso), revela que Andy (Charlize Theron) e Quynh (Ngô Thanh Vân) também foram amantes que compartilharam um romance de décadas semelhante ao que Joe e Nicky compartilham no filme. Essa revelação não apenas abre a porta para a representação MAM (mulheres que amam mulheres) no futuro, mas também adiciona outra camada à proximidade de Quynh e Andy no filme, separação trágica e a revelação surpresa que Quynh está viva na cena pós-crédito do filme. Agora, com a notícia de uma sequência (finalmente) sendo dada luz verde, explorar o romance de Andy e Quynh certamente poderia ser uma direção atraente a ser tomada pela franquia, especialmente se ficar encarcerada em uma prisão de ferro sob o oceano por centenas de anos teve algum impacto sobre a sanidade de Quynh.

Entre Joe/Nicky e Andy/Quynh, The Old Guard a estabeleceu o padrão para a representação AMS em filmes de super-heróis. O filme prova que, sem dúvida, personagens DSR podem e devem ser super-heróis que salvam o mundo, derrotam exércitos e chutam traseiros, e fazem isso sem que sua sexualidade seja subestimada ou limitada em qualquer capacidade. Por sua vez, força outras franquias convencionais a reexaminar como lidam com a representação DSR, porque embora pequenos passos sejam bons, com The Old Guard há um padrão estabelecido para como pode ser a representação DSR verdadeiramente impactante em filmes de super-heróis — e faz outras tentativas do passado parecerem fracas e indiferentes em comparação.

Além disso, os números de visualização e o sucesso de streaming de The Old Guard também refutam a noção ultrapassada de que o público não quer ver (ou não está pronto para) super-heróis DSR protagonizando filmes importantes. Uma das razões pelas quais The Old Guard foi um dos poucos filmes de ação da Netflix de 2020 a marcar uma sequência (e por que foi tão bem em primeiro lugar) foi por causa de como os fãs DSR se reuniram em torno dele, celebrando aquela representação tão esperada e fazendo campanha online para uma continuação da franquia para ver mais desses já amados super-heróis AMS.

Agora que o original foi um sucesso comprovado, ele também dá à sequência mais liberdade criativa para explorar enredos como a história de amor de Andy e Quynh, ou uma série de outros enredos explorados pelo volume significativo de quadrinhos de The Old Guard. O filme também possui um dos elencos mais impressionantes do gênero — embora Charlize Theron seja provavelmente o nome mais conhecido para o público convencional, o restante do elenco é preenchido por queridinhos indie (Kiki Layne), estrelas de cinema estrangeiras (Luca Marinelli, Marwan Kenzari) e grandes pesos-pesados de Hollywood, como Chiwetel Ejiofor e Matthias Schoenaerts.

Entre o elenco de estrelas de The Old Guard, a fanbase obstinada e o sucesso da crítica e comercial, uma sequência seria uma continuação crucial do legado do filme original, provando mais uma vez que há espaço mais do que suficiente para que protagonistas DSR sejam apresentados na frente e no centro em filmes de super-heróis. Embora o resto do gênero possa não estar lá ainda, The Old Guard continua a brilhar como um lembrete de que os super-heróis DSR podem e devem ser celebrados no cinema.

Via Syfy Wire.