10 janeiro 2022

De Homem pra Homem: Por que Bara Mangá merece ser tão popular quanto Yaoi

1/4 (One Fourth), de Mentaiko
 O que é bara e por que ele não é tão popular quanto yaoi? Aqui está uma exploração aprofundada do gênero bara — mangá 'gay' para um público masculino 'gay'.

A popularidade internacional do yaoi está aumentando com novos animes e mangás sendo introduzidos a cada ano, incluindo títulos populares como Given e Banana Fish. No entanto, seu parente bara mal é conhecido no exterior, apesar de ter características semelhantes ao yaoi. A maioria dos leitores internacionais conhece apenas alguns autores reconhecíveis do gênero bara, como Gengoroh Tagame, Mentaiko e Takeshi Matsu. Por quê? O bara deveria ter sucesso equivalente ao do yaoi, pois representa melhor os HAH (Homens que Amam Homens), os HSH (Homens que fazem Sexo com Homens) e a "cultura gay".

My Brother’s Husband, de Gengoroh Tagame
A origem do Bara

Bara é um subgênero no mundo do gei manga (japonês para "história em quadrinhos gay") do Japão. O que torna bara diferente de yaoi e shounen-ai é que essas histórias são criadas por artistas 'gays' de mangá (mangaká) para um público 'gay' masculino e têm um estilo de arte único em que os personagens masculinos são "peludos e musculosos", contrastando com o físico do "menino bonito" no mangá BL ("Boys' Love", que é quase um sinônimo para "Yaoi").

No entanto, bara tem uma história etimológica obscura. Bara significa "rosa" (a flor, não a cor) em japonês e era originalmente um termo depreciativo dirigido a homens andrófilos (isto é, homens atraídos por homens). Nas décadas de 1960 a 1970, o termo bara foi reapropriado pela mídia 'gay' do Japão: o filme Funeral Parade of Roses (Bara no Soretsu, "Cortejo Fúnebre das Rosas" numa tradução livre) se tornou um marco do cinema 'queer' japonês em 1969, e a palavra bara foi ainda mais popularizada na primeira revista 'gay' comercializada no país, Barazoku ("Tribo da Rosa", ao pé da letra), criada por um homem identificado como 'hétero' chamado Ito Bungaku em 1971.

Embora bara seja visto de uma forma positiva agora, artistas 'gays' de mangá, como Gengoroh Tagame, se recusam a descrever seu trabalho como bara devido à sua história controversa. É importante notar que bara é um termo mais usado por estrangeiros para ajudar a categorizar mangás 'gays' e raramente é usado por japoneses. Artistas 'gays' de mangá como Gengoroh Tagame preferem chamar seu trabalho apenas de "mangá gay" (gei manga), ou mesmo "Men's Love" (ML), pois ele reflete a longa história da arte homoerótica que remonta à arte e literatura em xilogravura durante o período Edo (séculos XVII a XIX).

Priapus, de Mentaiko
Favorecendo um público 'gay' masculino

Mangá BL é principalmente criado por mulheres mangakás para mulheres. O yaoi atende às fantasias femininas cheias de confissões de amor e intimidade entre dois homens, e geralmente não se concentra em fornecer um retrato preciso de homens 'gays' e questões 'LGTBQIA+' na sociedade.

No entanto, o mangá bara é um conteúdo erótico 'gay' feito principalmente por artistas 'gays' de mangá para homens 'gays'. O bara permite autenticidade, já que o mangaká 'gay' pode desenhar e contar histórias com base em suas próprias experiências e interesses. Um artista de mangá que exemplifica essa autenticidade no conteúdo 'gay' é Gengoroh Tagame, cujo trabalho inclui Fisherman’s Lodge ("O Alojamento do Pescador" numa tradução livre) e a série mais popular, My Brother’s Husband ("O Marido do Meu Irmão" numa tradução livre). A motivação de Tagame para criar mangás 'gays' vem de sua experiência de não ser capaz de encontrar o mangá que queria ler em outro lugar, e então ele assumiu a responsabilidade de criar conteúdo 'gay' para leitores semelhantes que lutam para encontrar mangás 'gays' com os quais possam se identificar. Mangá bara e erotismo 'gay' são uma forma de libertação para homens 'gays': esses homens podem expressar sua sexualidade e interesses na cultura 'gay' sem serem criticados pela sociedade.

O mangá bara é voltado para um público específico; no entanto, não há muitos meios públicos para popularizar esse trabalho no Japão e em outros lugares. A maioria dessas publicações é feita na forma de dojinshi e publicação online. Existem algumas revistas 'gays' que oferecem publicação de mangá bara, mas a maioria deixa de operar. Argumenta-se que muitos fãs de bara não divulgam seu interesse no gênero (provavelmente por conta da alta carga erótica em seu conteúdo). Como resultado, os leitores devem fazer uma pesquisa minuciosa para encontrar o mangá bara que desejam ler.

The Passion of Gengoroh Tagame
Um dos criadores da cultura urso (bear culture) japonesa, Tagame é conhecido como "O Tom da Finlândia do Japão".
Homens sexistas: Bishounen vs. Machos Selvagens

No mangá BL, personagens masculinos têm características bishounen — eles têm corpos andróginos e rostos de "garotos bonitos". Exemplos de tais designs incluem Viktor Nikiforov de Yuri on Ice (embora esse anime não seja classificado como BL, apesar de seu romance H/H e da demografia principalmente feminina) e Masamune Takano de Sekai-ichi Hatsukoi.

O que separa o bara do yaoi é que os físicos dos personagens masculinos são mais volumosos: eles têm o "tipo urso" ou figura de lenhador que está associada principalmente aos ocidentais. Esses personagens vão do gacchiri (absurdamente musculoso) ao debu (gordo), comprovando uma gama mais ampla de padrões de beleza para a aparência masculina. Embora o bara seja voltado para o público masculino, tem havido um interesse crescente no gênero por parte das mulheres que preferem personagens masculinos com músculos salientes.

Arte de Takeshi Matsu na capa de Massive: Gay Erotic Manga and the Men Who Make It
Bara & Yaoi: ênfase na cena de sexo

Tanto o mangá bara quanto o yaoi usam cenas de sexo explícito para mostrar como a luxúria e a paixão podem consumir um homem. Mostrar essas emoções cruas é uma forma de liberação e escapismo para leitores tanto masculinos quanto femininos, porque eles podem se entregar a suas próprias fantasias sexuais e "pecaminosas" por meio de um mangá.

No entanto, devido a um público predominantemente feminino, o yaoi também usa papéis uke/seme que correspondem aproximadamente aos papéis de gênero heteronormativos. O seme é o instigador e tem uma persona dominante e masculina, enquanto o uke recebe o seme e tem uma persona feminina. A dinâmica uke/seme é estritamente usada apenas no mangá BL/yaoi. O mangá ML/bara não usa papéis uke/seme; em vez disso, o mangá bara mostra homens que amam homens, independentemente de rotular personagens com atributos masculinos e femininos.

O mangá bara é conhecido por suas cenas extremas de sexo gráfico, que vão da pornografia soft-core ao sadomasoquismo. Como o yaoi, o mangá bara costuma apresentar conteúdo polêmico envolvendo violência sexual e até mesmo a fantasia de praticar atos sexuais com personagens menores de idade ou com seres meio-animais. Dependendo de sua moral, você pode querer evitar totalmente essas histórias [N/T: Eu fortemente recomendo evitá-las completamente], mas não ponha de lado todo o gênero bara. Existem poucos mangás bara que você pode querer conferir, como os trabalhos da antologia Massive: Gay Erotic Manga and the Men Who Make It ("Massivo: Mangá Erótico Gay e os Homens que o Fazem" numa tradução livre), que apresenta os artistas de mangá pioneiros do erotismo 'gay'.

Então, por que o mangá bara deveria ser popular como o yaoi? Quando se trata do essencial, o bara tem: a admiração do físico masculino e as cenas de sexo apaixonadas e lascivas entre homens. Quer se trate de homens musculosos transando uns com os outros ou de um doce romance de colégio entre dois garotos adolescentes, yaoi e bara dão conta do recado.

Via CBR.

P.S.: E se eu, o dono deste blog, posso lhes sugerir um autor de bara, eu indico o Takeshi Matsu. Ele é o meu bara mangaká preferido, pois suas estórias são bem variadas quanto a temas, e também é o autor que mostra a masculinidade de forma mais natural, simples, leve e vibrante (e às vezes inocente e romântica também), sem muitos dos estereótipos que a maioria dos mangakás, inclusive os do bara, apresentam. Por muitos anos ele foi autor de mangás shonen (aqueles voltados para meninos e rapazes, como Saint Seiya, Dragon Ball, Naruto, etc), e muito disso podemos ver em suas obras voltadas para o público masculino adulto.

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