O autor da DC Comics Geoffrey Thorne veio para reviver o Sindicato de Sangue (Blood Syndicate) da Milestone, e revela que o super-herói HAH Fade, líder da equipe, é o seu personagem masculino favorito da HQ, além de falar das diferenças e similaridades da representação "LGBTQ" e da violência urbana antes e agora. Ah, e veja também a capa variante do Orgulho desenhada por um brasileiro destacando Fade para o DC Pride!
Das quatro HQs emblemáticas da Milestone, Blood Syndicate se destacou do resto como o mais sombrio. Narrando as aventuras de uma coleção de ex-gângsteres e desajustados da sociedade, a série foi pioneira na representação de minorias raciais, religiosas e de gênero, misturando super-heróis com questões contemporâneas. Agora, com o lançamento de Blood Syndicate: Season One, o escritor Geoffrey Thorne, de Infinite Frontier e Green Lantern, está se unindo ao artista da HQ original ChrisCross para trazer o Sindicato para o presente com uma nova origem e um cenário moderno. Recentemente, a equipe de imprensa da DC Comics conversou com o escritor para ter uma ideia do que esperar e, como você verá, há muito que o livro oferece tanto para os fãs do original quanto para os recém-chegados.
Tech-9 entre Fade e Wise Son sob o olhar de Holocausto |
Cara, esse foi meu quadrinho favorito da Milestone. Eu possuo quase todo o Milestone original. Eu não possuo todo o Kobalt e posso não ter todo o Xombi. Mas o resto? 100%. Até Heroes. Então, eu sou muito conhecedor da HQ. Blood Syndicate foi o meu favorito de todos os quadrinhos porque eles eram mais sombrios, e esses personagens existem em um mundo em tons de cinza.
Você tinha algum personagem favorito no quadrinho?
Sim! Ironicamente, ela não aparecerá nesta primeira temporada, mas eu amava Kwai! Kwai era minha garota! Milestone fez muita coisa que você nunca viu nos quadrinhos antes. Uma deusa chinesa/coreana que vagava pela vizinhança e se juntou ao Sindicato de Sangue! Tipo, que diabos? Mas se conseguirmos uma segunda temporada, você pode apostar que Kwai aparecerá.
Eu também tinha um carinho enorme por Fade também [N/T: Vapor no Brasil, nome real Carlos Quiñones, Jr.]. Com os outros, eu gostava deles, mas com a natureza dos quadrinhos da época, eles eram mais orientados para a ação, então não havia tanta introspecção dos personagens em comparação com nossos padrões agora. Gostava muito do Wise Son. Wise Son, Fade e Tech-9 foram as figuras centrais do original, portanto são as figuras centrais deste quadrinho. E eu quero fazer mais com a dinâmica deles do que foi feito originalmente.
No início da HQ original, um dos membros da equipe morreu, chocando os leitores. Devemos estar atentos a perdas semelhantes no primeiro enredo?
Na HQ original, Tech-9 é morto na edição #4. Tech não vai ser morto neste aqui. Bem, ele não vai ser morto tão cedo nesta versão. Mas tudo isso depende do editorial. Por causa do nível de violência em que operam, considero todos os membros do Sindicato de Sangue como dispensáveis. Não pense apenas porque você leu os quadrinhos originais e acha que eles chegarão ao final da história que eles chegarão. Cada história é uma história.
Que elemento do Sindicato de Sangue original você achou fundamental trazer para o presente, e qual elemento você sentiu a necessidade de mudar?
Bem, para aqueles que realmente não sabem sobre o que era o primeiro quadrinho, poderia ser algo como "Ah, este é o Crips vs. the Bloods, escolha seu time". Isso não é o que é — isso estava humanizando diferentes tipos de pessoas nessa situação. Eram pessoas. Em particular, Flashback [N/T: Irmã de Fade] era viciada em drogas. O nível de violência foi baseado no nível de violência de rua, apenas com superpoderes. Então, a ideia de que a violência era apenas pela violência, isso não estava realmente em vigor na época e não está em vigor agora. A violência vai continuar — definitivamente vai continuar! — mas não é o foco do livro. Ninguém está atrás de fama não merecida. Todo mundo tem um ponto de vista, até os gângsteres.
Tech-9 e Fade diante de um grafite do Ícone em Blood Syndicate: Season One #1 |
O que você precisa entender é que não se trata de superpoderes. E se um monte de gente no mundo real fosse presenteado com tecnologia militar de primeira linha e um orçamento ilimitado? Se todos no bairro mais violento de sua cidade tivessem tanques, canhões antiaéreos e aviões furtivos, o que eles fariam? Iriam atrás um do outro? Seus inimigos? Nós vamos descobrir.
Esta é muito mais uma história do carinha ganhando mais poder do que eles jamais souberam. Então, a polícia é definitivamente um fator. Muito do comportamento da polícia em relação às minorias e aos negros em particular vem de como a polícia foi originalmente formada, em grande parte como uma operação de captura de escravos na época, e muito disso é trazido para os dias atuais. Mas também há um governo por trás disso que apóia isso e não castiga adequadamente — não há contrapesos onde é necessário. Bem, está prestes a haver um pesado contrapeso na Ilha de Paris [N/T: Paris Island, o bairro mais pobre e violento da fictícia Dakota City]. Agora há um monte de pessoas com superpoderes que não têm isso.
Capa variante "New School" de Blood Syndicate: Season One #1 |
Ainda não! Até agora, o que me foi permitido fazer é o que me foi permitido fazer. E não é minha intenção ser controverso, mas estou falando o mais real possível. Eles me disseram para fazer um quadrinho PG-13 [N/T: Inapropriado para menores de 13 anos], o que determina muito do que eu coloco nele. Xingar está implícito. Atividade sexual será tratada como é feita em um filme PG-13. E a violência é a violência, mas não é gratuita.
Da mesma forma, a HQ original foi pioneira em relação a seus personagens de diferentes identidades étnicas e orientações sexuais. Em 1993, muitos membros de minorias sexuais do Sindicato de Sangue estavam muito no armário para sua equipe (mas não para os leitores). A aceitação "LGBTQ+" é agora mais normalizada nos Estados Unidos. Devemos esperar menos conflito com a nova versão dos personagens "LGBTQ+"?
Há muitas políticas de gênero que eram irritantes e bizarras naquela época, mas ninguém percebe que Milestone teve o primeiro casal gay. O primeiro homem trans na história dos quadrinhos foi na Milestone. Fade, um personagem gay, era o líder do grupo! Nenhuma atenção foi dada a isso naquela época. Foi minimizado em deferência à imprensa bastante negativa sobre o que eles estavam tentando realizar, e isso foi apenas para que todos tivessem a chance de aparecer. Eles não faziam coisas como: "Ei, olhe para todos os meus personagens queer! Olhe para todos os meus personagens latinos!" Eles não fizeram isso. Eles apenas os colocaram na mistura onde eles naturalmente estariam e tocaram os relacionamentos da maneira que tocariam naturalmente.
Então, eu também estou fazendo isso. Não exatamente da mesma forma. Por exemplo, há um personagem principal homofóbico. Ele vai ter sua jornada. Haverá alguma estática sobre isso. Ele não é necessariamente mau, mas ele tem problemas.
Fade é destaque em uma das capas variantes do DC Pride 2022 (Blood Syndicate: Season One #2 pelo artista brasileiro Mateus Manhanini) |
Ainda temos Fade, desta vez um homem abertamente gay. Ele simplesmente se sente confortável em sua pele, o que é algo que você pode fazer agora. Ele nem sempre está falando sobre como é ser gay. É só, é ele. Ele vai ser ele. Todos os personagens vão ser assim. Conversas sobre fé e guerra, conflitos no Oriente Médio — há muita coisa acontecendo. Não poderíamos fazer o que estamos fazendo com as sensibilidades modernas se eles não tivessem feito o que fizeram em relação às sensibilidades de seus dias de então.
Também houve coisas que não foram resolvidas (na HQ original). Fade era um pouco mais sombrio no original, em parte por causa da maneira como seus poderes funcionavam [N/T: Fade pode atravessar objetos sólidos]. Além disso, não acredito que Fade tivesse um homem naquela época. Eu pretendo dar a Fade um interesse amoroso. Eu não quero que ele fique taciturno e andando por aí angustiado — ele já tem problemas suficientes sem se preocupar com sua vida amorosa! E o personagem Masquerade [N/T: Um homem trans] foi interpretado como trágico e conflitante. Ele foi o traidor em um ponto. Aquele era o tempo, aquele era o lugar, e Ivan Velez Jr. fez um trabalho magistral com esses personagens, mas Masquerade não vai ser apresentado assim. Não essa merda estranha, não esse ódio de si mesmo. Novamente, eles já terão muitos problemas. Eles não precisam de mais!
Tenho pessoas queer na minha família. Eu tenho pessoas queer em minhas amizades íntimas e pessoais. Eu vou fazer direito para o meu povo. Nada será explorador nisso. Vai ser o mais real que conseguirmos.
Capa variante da edição #1 apresentando Holocausto |
Não sei responder essa pergunta!
Holocausto é o vilão desta peça. Acho que não estou entregando nada dizendo isso. Mas o Sindicato do Sangue não existe a princípio. Uma grande parte deste quadrinho é como eles vêm a ser. Você verá Holly [N/T: Holocausto]. Holly faz a coisa dele! Mas ele não é o mesmo dos anos 90. Existem muitas diferenças. Isto é um remix e ele também.
Como tem sido a relação de trabalho com ChrisCross?
Fiquei surpreso que conseguimos o Chris. Essa foi a questão decisiva para mim. Adoro trabalhar com ele. Ele criou visualmente a maioria desses personagens. Costumo dar descrições bastante detalhadas em meus scripts, mas com isso, basicamente esperei para ver quais seriam os designs de Chris. As únicas coisas que eu daria notas eram os tons de pele, para realmente passar que certos personagens eram afro-latinos.
Fade (alto à esquerda) e outros super-heróis icônicos da Milestone |
Estes não são heróis. Virgil [Hawkins, o Super-Choque] é um bom garoto tentando ser um bom garoto. Raquel e Ícone são super-heróis. Mas o Sindicato — eles são sobre a Ilha de Paris. Eles não são sobre nenhuma dessas outras coisas. Ocasionalmente, eles fazem coisas super-heroicas, mas quando resolvem um problema, ele permanece resolvido. Eles não estão tentando te colocar na cadeia, eles estão resolvendo o problema. Eles vão te matar e pronto. São vilões? Heróis? Depende de quem está do lado errado. Ética situacional é uma espécie de palavra de ordem.
Fonte: site oficial da DC Comics.
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