10 junho 2022

DC Pride 2022 faz um retorno eletrizante e pungente (sem spoilers)


 Pelo segundo ano consecutivo, a DC Comics faz uma celebração ainda mais pungente e ambiciosa com seus personagens e criadores da diversidade sexual, romântica e de gênero.

Quando o DC Pride foi lançado pela primeira vez em 2021, parecia uma revelação absoluta, com a antologia de 100 páginas destacando exclusivamente personagens e criadores DSR ([da] Diversidade Sexual e Romântica) da DC Comics. Nos 12 meses desde que o one-shot foi lançado pela primeira vez, o tópico de mostrar a experiência DSR (ou "LGB" ou "LGBTQ+") evoluiu ainda mais, tanto de forma negativa (com legislação como o controverso projeto de lei "Don't Say Gay" da Flórida, nos EUA) quanto positiva (com aumento de representação DSR no mundo da mídia).

A DC Comics fez manchetes várias vezes nesta última categoria, com grandes personagens estabelecidos como Jon Kent/Superman e Tim Drake/Robin tendo histórias de suas revelações como homens amando homens (HAH) em seus respectivos quadrinhos. Todo esse contexto fortalece ainda mais a jornada de leitura do DC Pride 2022, a segunda celebração anual da comunidade DSR da editora — mas mesmo fora disso, a edição ainda é absolutamente incrível de se ler. DC Pride 2022 é de alguma forma uma antologia ainda mais ambiciosa e lindamente trabalhada do que sua antecessora, com algumas das histórias mais sinceras que os quadrinhos tradicionais tiveram este ano.


DC Pride 2022
apresenta uma coleção de histórias que são em grande parte sobre os personagens DSR da editora, com histórias que destacam uma ampla gama de experiências e identidades. Os enredos individuais dessas histórias variam desde o dia-a-dia ("A World Kept Just For Me" ["Um mundo guardado só para mim"] com Jackson Hyde/Aquaman aborda apresentar o namorado à sua cidade natal, enquanto "Confessions" ["Confissões"] protagonizado pela Rainha Núbia envolve contar à sua namorada uma história embaraçosa) ao fantástico (sem entrar em spoilers, outras histórias envolvem elementos como situações de reféns, monstros metamorfos e a estreia de um novo Quinteto Mortal [Fearsome Five]). A edição então termina com "Finding Batman", uma história autobiográfica do icônico dublador do Batman, Kevin Conroy, contando sobre a homofobia que enfrentou durante sua vida e carreira.

Superman (Jon Kent) e Jay Nakamura
Embora muitos elementos se destaquem no DC Pride 2022, um dos mais impactantes é seu senso de confiança, tanto entre seus personagens quanto nas convicções de cada história individual. Há uma sensação de emoção narrativa e eletricidade em praticamente todas as páginas, pois cada personagem e sua narrativa são capazes de realmente florescer com suas melhores habilidades. Mesmo que personagens centrais do DC Pride 2022 ainda estejam chegando a um acordo com um componente de sua identidade — como Jon Kent abraçando as partes kryptonianas e andrófilas de sua identidade em "Super Pride" ("Super Orgulho"), ou o "não-binário" Jess Chambers/Kid Quick provando-se como um super-herói em "Are you ready for this?" ("Você está pronto para isso?") — essas histórias são apresentadas de uma maneira que permanece alegre e aliviada por muitos dos tropos traumáticos ou desencadeantes que cercavam a mídia DSR do passado. A principal exceção a isso é "Finding Batman" ("Encontrando Batman"), que narra a vida de Kevin Conroy como um homem 'gay' e ator antes de ser escalado para Batman: The Animated Series de uma maneira pungente e difícil às vezes, mas incrivelmente necessária. (Uma página de aviso de conteúdo precede a estória, aconselhando a discrição do leitor "para públicos mais jovens ou aqueles com experiência de ódio em primeira mão".)

Aquaman (Jackson Hyde) e Ha'Wea
Outra parte do que faz as histórias do DC Pride 2022 parecerem tão fortes — tanto em comparação com a antologia do ano passado quanto com muitas histórias DSR semelhantes no mundo dos super-heróis — é a sensação de que essas histórias são significativas dentro da própria DC. Esta antologia ainda poderia ter sido deliciosa se fosse apenas um desfile dos vários personagens DSR que existiram esporadicamente ao longo dos anos, e estariam em grande parte condenados a serem reinventados na próxima grande revisão ou a ficarem presos nos anais de um Quem é Quem (Who's Who). Mas há uma sensação de que a história de cada personagem vale a pena ser contada, seja porque ela se vinculará diretamente a uma futura HQ — particularmente "Are you ready for this?", que funciona essencialmente como uma prequela de Multiversity: Teen Justice (onde acompanhamos o florescente romance do casal masculino Troy e Raven) — ou simplesmente apresentará aos leitores a grandiosidade de um personagem existente e proeminente. Mesmo as histórias que parecem mais desconectadas da continuidade atual, como "Public Display of Electromagnetism" ("Exibição Pública de Eletromagnetismo") com The Ray ou "Bat's in the Cradle" ("O morcego está no berço") com Batwoman, ainda são deliciosas em sua execução. Parte disso pode ser a variedade de gêneros que a edição utiliza, mergulhando no neo-noir com "The Gumshoe in Green" ("A Detetive de Verde"), protagonizada pela Lanterna Verde Jo Mullein, pulp da Idade do Bronze dos quadrinhos com "Confessions", e tudo mais.

The Ray e Xenos
Ao longo do caminho, as histórias do DC Pride 2022 abordam uma variedade surpreendente de questões DSR incrivelmente específicas, algumas das quais são bem abertas — "Up at Bat" ("Em Cima da Morcega" ou "Em Cima do Bastão", a ambiguidade foi proposital) com Alysia Yeoh usa uma conferência de pessoas 'trans' para abordar o bom e o ruim de ser 'transgênero' na atualidade, e "The Gumshoe in Green" aborda os estereótipos 'bissexuais' negativos de uma forma que me surpreende ver em uma história em quadrinhos de super-heróis. Como seria de esperar com a narrativa de super-heróis, várias histórias também usam alegorias para abordar suas questões DSR, incluindo "A World Kept Just For Me", que aborda como Jackson Hyde teve que esconder seus poderes e sua identidade enquanto crescia, enquanto "Public Display of Electromagnetism'' usa uma luta com uma supervilã das sombras para ajudar The Ray a abraçar às claras seu relacionamento com o engenheiro da Liga da Justiça, Xenos. Provavelmente o exemplo mais inteligente disso é a história com Connor Hawke, "Think of Me" ("Pense em Mim"), que usa uma luta com o Maestro da Música (Music Meister) para espelhar brilhantemente ele se revelar 'assexual' para sua mãe através de uma carta. Há também uma confiança nos detalhes DSR menores e mais cativantes, entre várias histórias que giram em torno das paradas do orgulho e o diálogo entre Arlequina e Hera Venenosa em "The Hunt" ("A Caçada") que fará o dia de seus respectivos fandoms.

Donald Troy e Raven
Em um nível estético, DC Pride 2022 se destaca, com uma variedade de estilos de arte e letras que se encaixam em seus respectivos personagens. Embora realmente não haja um elo fraco no grupo, há alguns destaques — a arte de Evan Cagle e as letras de Lucas Gattoni em "The Gumshoe in Green" casam a estética de Far Sector com as melhores partes do noir, enquanto o trabalho de Zoe Thorogood, Jeremy Lawson e Aditya Bidikar em "The Hunt" é um sonho de roxos e rosas lúdicos. Mesmo as histórias que estão mais alinhadas com o estilo tradicional da DC ainda estão cheias de floreios estéticos lindos e coloridos, como o trabalho de Nick Robles, Triona Farrell e Aditya Bidikar em "Super Pride", o de Lynne Yoshii, Tamra Bonvillain e Ariana Maher em "Up at Bat", ou o de Travis G. Moore, Enrica Eren Angiolini e Ariana Maher em "Special Delivery" com Tim Drake.

Robin (Tim Drake) Bernard Dowd
Assim como seu antecessor, DC Pride 2022 é uma celebração perfeita e infinitamente deliciosa dos personagens e criadores DSR da editora. Mas a edição deste ano consegue ser algo muito mais significativo, catártico e triunfante do que qualquer outra coisa na mídia, de uma maneira que não poderia ser mais adequada para a crescente lista de personagens DSR da DC. Embora algumas histórias possam ser um pouco mais impactantes do que outras (especialmente a depender da identidade e/ou orientação afeto-sexual de cada leitor, e/ou a depender dos seus personagens preferidos), toda a experiência de ler DC Pride 2022 é incomparável, com histórias que deixarão os leitores emocionados de todas as maneiras certas. Esta pode ser uma das melhores e mais importantes antologias que a DC lançou na memória recente, e isso é motivo de comemoração.

Ghost-Maker
Publicado pela DC Comics

Em 7 de junho de 2022

Escrito por Devin Grayson, Stephanie Williams, Ro Stein & Ted Brandt, Jadzia Axelrod, Alyssa Wong, Tini Howard, Greg Lockard, Stephanie Phillips, Travis G. Moore, Dani Fernandez, Danny Lore & Ivan Cohen e Kevin Conroy

Desenhos de Nick Robles, Meghan Hetrick, Ro Stein & Ted Brandt, Lynne Yoshii, W. Scott Forbes, Evan Cagle, Giulio Macaione, Samantha Dodge, Travis G. Moore, Zoe Thorogood, Brittney Williams e J. Bone

Cores de Triona Farrell, Marissa Louise, Tamra Bonvillain, Enrica Eren Angiolini e Jeremy Lawson

Letras de Aditya Bidikar, Ariana Maher, Frank Cvetkovic e Lucas Gattoni

Pinups de P. Craig Russell com Lovern Kindzierski, J.J. Kirby e Jess Taylor e Rye Hickman

Capa de Phil Jimenez e Arif Prianto

Fonte: ComicBook.com

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