02 maio 2022

Heartstopper, a beleza de um primeiro amor livre


 Depois de uma longa espera, a Netflix nos trouxe Heartstopper em 22 de abril. Uma história de amor, amizade, descoberta pessoal e aceitação na adolescência mais terna e inocente.

A arte transmite. Faz você sentir coisas. Remove seu passado, seus desejos, seus anseios. Isso hipnotiza você, engana você. Pode evocar tristeza, melancolia, alegria, euforia... É quase mágico. No entanto, há um sentimento único e especial. Pode durar um segundo, talvez menos, ou, para quem tiver sorte, algo mais. É a sensação de que vale a pena estar vivo pelo que a arte está transmitindo a você. Uma espécie de alegria silenciosa que percorre seu peito como uma onda de calor quente e agradável. Uma euforia contida que quer sair através de lágrimas tímidas para uma felicidade vergonhosa porque você não consegue entender que algo assim te faz tão feliz. Você não sabe exatamente por que e, se souber, isso é o de menos. O importante é que está acontecendo. E isso é Heartstopper.

A série reúne os dois primeiros volumes dos romances gráficos escritos e desenhados por Alice Oseman, que por sua vez é responsável pelo roteiro da série. Com um mundo literário próprio, a série é o início e o estabelecimento de uma história tão simples quanto o número de vezes contada, mas tão profunda e bela quanto excepcional.

A história começa quando Charlie Spring (Joe Locke, em seu papel de estreia) conhece Nick Nelson (Kit Connor, de Rocketman e Little Joe) no primeiro dia de volta das férias de Natal. Por razões de sorte, eles foram designados a se sentarem juntos na sala de aula. O que começa com uma troca de sorrisos amigáveis ​​e um delicado "Oi" ("Hi" 💙), desenvolve-se em uma relação de descoberta e aceitação pessoal mútua através de momentos vitais irrepetíveis e eternos, belos e outros nem tanto. Tudo isso com um grupo de amigos ao seu redor que por sua vez estão em sua própria jornada, uma jornada que, embora individual, precisarão uns dos outros para não se perderem. Assim, a série segue a linha mais simples do mundo: garoto conhece garoto. A mudança? O garoto.


Uma representação
 doce

Claro, temos filmes como Love, Simon (2018), o holandês Jongens (Boys) (2014 [N/T: que é o meu filme de amor entre garotos favorito; por favor, ASSISTAM!]) e séries como Love, Victor (2020—). Cada um deles lida em grande parte com a mesma coisa. Meninos que estão tentando se entender. Alguns sabem que são 'gays', outros suspeitam que são 'bissexuais'. Há quem não saiba ou não queira admitir até que o amor ou a paixão que sentem por outro menino seja maior do que o desejo de escondê-lo ou negar a si mesmos; outros que sabem, mas têm que lidar com uma vida amorosa na clandestinidade.

Todas essas produções mostram como 'sair do armário' em uma sociedade como a nossa não é fácil. Alguns têm uma vida privilegiada com os pais e uma rede de segurança que os apoia, enquanto para outros isso é outro impedimento, pois devem escolher entre si e sua família. Uma variedade em que a representação e o como importam. Nesses casos, o que se espera é atendido com um ótimo trabalho.

E Heartstopper? É tudo isso e muito mais. Pela primeira vez são adolescentes sendo adolescentes. Sem drogas, sem cliffhangers, sem orgias, sem álcool, sem bebedeira, sem ressaca, sem palavrões, sem menção de sexo em qualquer lugar. É o clichê mais doce e terno já visto. Dois garotos fofos, seres de luz cercados por mais seres de luz, que simplesmente gostam um do outro de uma maneira nova para eles. E essa inocência em um mundo que quer anulá-los é tão poderosa e importante que faz de Heartstopper uma das melhores séries já feitas.

Uma realidade agridoce

Claro, para ter essa sensação você tem que deixar de lado alguns problemas. Charlie e Nick são dois garotos regulares de classe média em um ambiente familiar amoroso e de mente aberta. Isso faz com que alguns problemas que podem ser vistos em outras séries com representação DSR (da Diversidade Sexual e Romântica) desapareçam. Não há problemas de dinheiro, drogas, etc. O amor e a aceitação dos pais podem ser vistos sem problemas, algo que estava sendo esquecido na ficção. No entanto, isso deixa a porta aberta para que nos concentremos em questões mais sensíveis, como saúde mental e bullying.


Embora a série não se concentre nessas questões, elas são levantadas. Principalmente o que se refere ao bullying. Infelizmente, é como a própria vida: o galo de plantão contra os aparentemente fracos. Aparentemente, porque você tem que ter coragem para ser quem você é. Assim, nos é mostrado um horror que não precisa ser representado em uma surra ou coisa pior. Basta ver a reação daquele a quem se dirige para partir nossos corações e amaldiçoar a existência de tais pessoas. Sabem como tratar isso de forma realista e dura, sem fugir da essência idílica da série.

No entanto, a diversidade de representação que se consegue através dos personagens que acompanham a dupla principal é o que a torna mais importante. Eles são adolescentes legais, engraçados, irônicos e empáticos. Eles se amam e são quem são livremente. Por mais que estejam errados, falam das coisas, não há discriminação de nenhum tipo. É o que todo grupo de amigos deveria ser. É, em pequena escala, o que o mundo deveria ser. Mas, um mundo governado pelo que é visto em Heartstopper é um mundo utópico que nunca existirá. Por isso é tão imprescindível.

Um clichê necessário

Heartstopper mostra amor limpo e ideal. Um amor sem toxicidade, comunicativo. Não é um amor sem problemas, dúvidas, isso não existe, mas é um tipo de amor que nasce do mais básico do coração: respeito e carinho. Um amor que dá origem a diálogos que muitos de nós gostaríamos de ouvir, que muitos irão agradecer por ter ouvido. Diálogos que nos fazem chorar por quem nos fez duvidar de nós mesmos, não nos amar, não nos aceitar. Diálogos e situações que gostaríamos de vivenciar, mas que nos foram roubados, que não tivemos por medo ou, ainda, que alguns viveram mas pagando as consequências.


É uma série de pessoas 'queer', com pessoas 'queer', para pessoas 'queer'. Mas não só para elas. É para quem quiser entender, para quem puder ver o quão especial é algo assim em uma plataforma como a Netflix. Por todas as histórias que não foram contadas e por todas as que serão contadas graças a esta.

Heartstopper é clichê atrás de clichê. Clichês necessários que te fazem sorrir do nada, que te roubam uma lágrima por um anseio jamais encontrado. Garoto atleta conhece garoto nerd. Dois mundos colidindo, o que permite ao garoto atleta ver algo que havia escondido nele. E, por sua vez, o garoto nerd viu que tudo o que lhe disseram para torná-lo invisível não passava de conversa e mentiras.

Um calor utópico

Por sua vez, nesses dois mundos estão os amigos de cada um. Os populares do garoto atleta e os geeks do garoto nerd. A garota que muda de escola e consegue fugir da transfobia que a cercava, enquanto encontra algumas amigas que serão um ponto de apoio nas mudanças pelas quais passam em uma fase tão precoce de suas vidas. Assim como o amor romântico que mencionei anteriormente, a amizade funciona da mesma maneira. É uma amizade pura e duradoura. Apoio mútuo e compreensão.

A série alcança essa sensação de beleza, ternura e raiva, em certas ocasiões, sem nunca deixar de lado aquela base linda e quente. Fá-lo graças à história, à montagem, aos personagens e às cores que podemos apreciar durante os oito episódios. Cores pastéis, variadas e berrantes, que combinam com os pequenos desenhos que aparecem de vez em quando para nos mostrar os sentimentos de um personagem, tal como nos romances gráficos em que se baseiam. Um detalhe pitoresco que só reforça aquela sensação de ternura inocente.


Claro, os personagens são capazes de transmitir tudo isso graças ao elenco. O que todos os atores fazem com seus personagens é magistral. Joe Locke e Kit Connor conseguem dar a profundidade e o dinamismo que os personagens exigem e precisam. Eles conseguem que a emoção em seus rostos atravesse a tela e capture o coração e a alma do espectador. Assim como seus pares, entre os quais encontramos William Gao e a cantora e modelo Yasmin Finney em seus papeis de estreia como Tao e Elle, Corinna Brown (My Murder) como Tara e Kizzy Edgel também em seu papel de estreia como Darcy. Todos eles e os demais atores que completam o elenco, quase todos atores iniciantes e jovens em seu primeiro papel importante, dão tudo de si para capturar personagens tão variados quanto interessantes, em atuações espetaculares.

Um lugar seguro

Embora quase todo mundo seja amador, há uma atriz de renome mundial, aclamada pela crítica e adorada pelos fãs em um papel que se encaixa perfeitamente nela. Esta é Olivia Colman (The Crown), que interpreta Sarah Nelson, a mãe de Nick. Se ela já é uma mulher que te dá vontade que te abrace e de ter ao seu lado nos momentos ruins e uma atriz que conquista o público com seu trabalho primoroso, nesta série tudo isso é combinado para dar aos telespectadores uma personagem e uma atuação memoráveis, necessárias e imprescindíveis.

A série é uma âncora nesta vida. Em um mundo governado pelo mal, ganância e ódio, que está ficando mais sombrio a cada dia, Heartstopper funciona como um dos faróis que iluminam essa escuridão. Um lugar seguro para onde você pode escapar, que ensina e mostra a importância das ações e palavras e que a vida às vezes pode valer a pena.

Então, antes que eu perca a credibilidade ao repetir o quão magnífica é a série, Heartstopper vai fazer você chorar, sorrir, ficar boquiaberto, te hipnotizar... Uma montanha russa de emoções que abraça seu coração e sussurra em seu ouvido que tudo vai ficar bem. Uma oportunidade única que todos deveriam aproveitar.


Via El Generacional.

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