29 março 2021

Barbalien: Planeta Vermelho


 Barbalien: Red Planet é uma inovadora nova série em quadrinhos de ação de ficção científica no universo de Black Hammer vencedor do Prêmio Eisner (Eisner Award) sobre preconceito, honra e identidade. Mark Markz encontrou seu lugar na Terra como policial condecorado e como o amado super-herói Barbalien. Mas no meio da crise da AIDS, o ódio de todos os lados faz com que o equilíbrio dessas identidades pareça impossível — especialmente quando um inimigo marciano do passado o caça para levá-lo de volta, vivo ou morto.

Escrito por Jeff Lemire (criador do universo de Black Hammer) e Tate Brombal, com arte de Gabriel Hernandez Walta (New Mutants, X-Men), cores de Jordie Bellaire e letras de Aditya Bidikar, Barbalien: Red Planet (Barbalien: Planeta Vermelho no Brasil) da Dark Horse não fica nas beiradas do problema. Ambientado durante a crise da AIDS nos anos 80, ao longo de cinco edições (cuja última foi lançada agora em março de 2021) acompanhamos Mark Markz. Markz é secretamente um marciano e um "homossexual" enrustido. Graças aos poderes de transformação de Markz, ele trabalha como policial durante o dia e voa como o vigilante Barbalien à noite. Assistindo o movimento dos direitos "gays" ganhar força, Markz se vê do outro lado do cacetete. Esta equipe criativa cria uma história pungente e comovente, mas também gentil e empática.

ESCRITA

Miguel e Mark, o amor nascido da luta
Lemire e Brombal são claramente passionais quanto aos direitos "gays" e irados com a forma como os primeiros dias do movimento pelos direitos "gays" foram repletos de brutalidade policial. Mas Lemire e Brombal não permitem que sua paixão atrapalhe a narrativa sutil. Eles empaticamente assumem o papel de alguém que se sente preso no meio. Mark Markz, o Barbalien, está preso entre querer se encaixar e querer abraçar quem ele é. Ele é um policial "gay" ajudando a impedir o movimento pelos direitos "gays".

Através da voz do ativista Miguel Cruz, Lemire e Brombal têm a oportunidade de expressar o que pensam sobre a injustiça. Miguel critica o sistema e a tragédia, e critica poderosamente. É no ponto, mas é um comício. As pessoas não medem as palavras em comícios. Enquanto isso, em Marte, Lemire e Brombal definiram os tipos sanguíneos como sendo um sinal da posição de um marciano. Essa ideia de que o sangue pode ser limpo ou sujo configura perfeitamente o preconceito que vemos na Terra na crise da AIDS. Portanto, para cada grito a plenos pulmões, Lemire e Brombal têm uma piscadela astuta e um cutucão cuidadoso.

ARTE

Mark e Miguel
Walta nos faz sentir presos. Usando uma página de 9 painéis na edição #1, Walta mostra a rotina usual de Markz. Na coluna da esquerda, vemos Barbalien resgatando uma criança de um prédio em chamas. Na coluna do meio, o Oficial Mark Markz ajuda uma mulher que está sendo assaltada e leva-a para casa em segurança. A coluna final mostra Markz em casa, mudando de canal na TV. Como Walta configura isso em colunas verticais em vez de horizontais, parece que estamos assistindo aos mesmos eventos se repetindo. Mesmo que estejamos apenas acompanhando Barbalien em um prédio em chamas, Walta nos dá a sensação de que essas coisas são apenas parte do dia-a-dia de Markz. Pode ser uma criança ou moça diferente, mas Markz está sempre ajudando e voltando para uma casa solitária. Assim como a página nos faz pensar "ei, por que estamos vendo isso acontecer de novo?", sentimos a própria irritação de Markz com a redundância de sua vida.

CORES

Bellaire não quer que esqueçamos do que realmente se trata essa edição. Como aquele laço da AIDS, vemos a cor vermelha surgindo indefinidamente. Os manifestantes a vestem e têm em seus cartazes, Miguel usa sapatos vermelhos, Barbalien tem pele vermelha. Torna-se quase uma cor assustadora. Uma cor que representa mais do que apenas AIDS, ela representa o sangue do movimento pelos direitos "gays". Então, quando o Oficial Mark Markz salva uma mulher com um casaco vermelho sendo assaltada na frente de um grafite vermelho, é como se ele não conseguisse tirar essas pessoas da cabeça. Quando Markz finalmente deixa seu solitário apartamento azul, ele encontra um clube subterrâneo. As cores de sua solidão azul e o sangue e suor do movimento pelos direitos "gays" se fundem para criar um lindo roxo. Markz traz sua própria dor para a mesa, e essas novas pessoas que ele conheceu trazem a deles, e juntos eles fazem algo lindo.

LETRAS

Os efeitos sonoros de Bidikar têm diferenças sutis. Isso permite que a edição #1 (e provavelmente as outras) tenha uma sensação uniforme, ao mesmo tempo que garante que cada som pareça único. Um controle remoto não soa como um carro parando bruscamente, mas o estilo geral das letras permanece o mesmo. Contudo, Bidikar muda isso ao escrever as falas dos marcianos. Suas palavras, até mesmo os sons que emitem, são diferentes. É interessante que não vimos Barbalien falando nessas cenas. Isso levanta a questão, como as falas de Barbalien seriam escritas por letras? Em vez disso, só temos as falas de Barbalien na Terra para seguir. Elas têm as mesmas letras que todos os outros terráqueos. Isso novamente destaca como Markz está preso entre mundos, literalmente neste caso. Markz não é totalmente marciano nem totalmente humano, ele simplesmente é.

Capa da edição #1
Barbalien: Red Planet da Dark Horse, que foi originalmente programado para ser lançado no Mês do Orgulho de 2020, mas foi adiado para novembro devido à pandemia de COVID-19, tem toda a paixão de um grito de guerra entregue com sutileza e finesse. Lemire, Brombal, Walta, Bellaire e Bidikar criam uma história impressionante. Barbalien: Red Planet é empático e bonito. E é uma leitura mais do que necessária, especialmente para conhecer, por dentro, um capítulo essencial da longa história da luta pelo nosso direito de viver.

Fonte

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