O Juiz Dredd (Judge Dredd) é um ícone dos quadrinhos britânicos, uma robusta figura da lendária antologia de ficção científica 2000AD desde sua segunda edição, em 1977. Um homem da lei autoritário em um futuro arruinado onde o que resta da humanidade é amontoado em Mega-Cidades (Mega-Cities) perigosamente superpovoadas, Dredd é juiz, júri e frequentemente carrasco. Simplificando — como ele costuma fazer — ele É a lei.
Em 2013, também parecia que a lei poderia ser "gay".
Na corrida para o lançamento do Prog 1817 de 2000AD — para os não iniciados, "Prog" é o que a publicação chama de "edições", um dos muitos jargões exclusivos associados à HQ — a mídia tradicional britânica foi varrida com relatos de que Dredd seria revelado como "gay" em uma história de capítulo único apropriadamente intitulada 'Closet' ('Armário' em português), escrita por Rob Williams e com arte de Mike Dowling.
Muitos veículos correram com a mesma imagem no topo deste artigo, lançada pela editora de 2000AD, Rebellion, para aumentar o frisson para a história — Dredd agarrando um homem e beijando-o, enquanto seu monólogo interior reflete sobre como ele sempre soube que era "gay", mas estava "com muito medo de admitir".E por que não? Num relance, Dredd se encaixa em muitos dos traços de um homem "gay" enrustido — emocionalmente atrofiado, se entrega ao trabalho, nunca discute sua vida privada, tem uma queda por couro e uniformes. OK, esse último talvez seja uma questão de preferência pessoal, mas há uma razão para o Village People ter um policial vestido de couro (sem falar em toda a arte de Tom of Finland). Visualmente, muito do Juiz Dredd como personagem já é codificado como "gay".
A resposta foi, infelizmente, previsível. Vozes online de direita ficaram horrorizadas que esse modelo de masculinidade pudesse ser revelado como "um daqueles 'homossexuais' covardes", e se enfureceram com a forma como a história era apenas para apaziguar liberais esquerdistas. Do outro lado da discussão estavam aqueles que estavam dando boas-vindas à revelação ou debatendo onde Dredd poderia cair no espectro da sexualidade. Foi uma guerra cultural discreta, antes de eles ultrapassarem praticamente todas as interações na internet.Na época, o escritor Williams até disse ao The Guardian que Dredd "pode muito bem ser 'gay', 'hétero' ou 'bi'", mas que qualquer atração era subsumida por sua devoção à lei. No entanto, Williams acrescentou "você pode imaginar o que aconteceria se essa repressão acabasse, apenas por um instante? Claro, Dredd poderia ser 'gay'."
Devlin Waugh (vampiro exorcista "homossexual"): "Eu digo, Dredd--isso é um Daystick na sua mão, ou você só está feliz em me ver?" |
A história em si é estranhamente doce em algumas partes, ou talvez agridoce, com Taylor contando sua dificuldade em chegar a um acordo com sua própria sexualidade e enfrentar seu pai abusivo e homofóbico. Em apenas seis páginas, 'Closet' também consegue transmitir a sensação de aceitação que muitas pessoas AMS (amante[s] do mesmo sexo) experimentam quando começam a encontrar sua comunidade, e a liberdade que Taylor encontra quando descobre a Dredd's Daystick reflete a importância dos espaços AMS no mundo real.
Taylor e seu melhor amigo Jason são surpreendidos e agredidos pelo pai homofóbico de Taylor. Eles nem sabiam se eram "gays", mas se descobriram atraídos um pelo outro. |
Hall of Just Us |
No entanto, tudo piora quando o verdadeiro Dredd e um grupo de seus colegas Juízes invadem a boate, condenando todos os presentes — incluindo Taylor — a cinco anos em um isocubo (prisão) por se fantasiarem de um Juiz. Embora haja um toque de positividade na conclusão, com Taylor se recusando a fugir de sua prisão ou de sua "homossexualidade", em vez disso jurando silenciosamente estar "fora" ("out" em inglês, que também quer dizer "assumido") de mais de uma delas depois de cumprir sua pena, a história também levanta questões sobre o tipo de representação que queremos ver na grande mídia.
Taylor Cook: "Me prendam". |
Taylor sendo preso pelo Juiz Dredd |
Então, sim, se o próprio Juiz Dredd tivesse sido revelado como "gay", certamente teria sido um grande momento para a representação HAH nos quadrinhos e na mídia em geral — a questão é, nós o teríamos querido como um dos "nossos"?
Você pode ler 2000AD #1817 Judge Dredd - Closet aqui (em inglês) ou baixá-la aqui (em inglês, junto com várias outras edições no mesmo link).
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