19 abril 2021

O Fantasma contra a HBTfobia na Polônia [Fev/2020]


A Polônia é um dos países mais HBTfóbicos da Europa, e recentemente foi-se anunciado que um terço do território polonês se declarou oficialmente "zona livre de 'LGBTs'", oficializando o ódio, a discriminação e a perseguição contra pessoas que não são heterossexuais e cisgêneras. (veja aqui)

Com isso, trago aqui um assunto de 2018 que causou polêmica na Europa e quase virou uma crise diplomática entre a Polônia e a Suécia por conta de uma história em quadrinhos em que o super-herói O Fantasma defende pessoas DSR ([da] diversidade sexual e romântica) durante uma Parada do Orgulho em Varsóvia contra uma milícia HBTfóbica, usando como "arma" uma bandeira do arco-íris.

Texto original de Nick Duffy para o site Pink News.
Tradução feita pelo autor deste blog.
Se for usar parcial ou completamente esta tradução,
favor fazer a devida referência ao link deste blog.

Uma história em quadrinhos que vê um super-herói defendendo uma Parada do Orgulho de HBTfóbicos violentos provocou raiva na Polônia.

A edição sueca de Fantomen, que apresenta o super-herói estadunidense de longa data O Fantasma (The Phantom), foi criticada pela controversa capa de sua última edição.

A HQ, escrita pelo escritor polonês Philip Madden, vê o herói participar de um evento do Orgulho na capital da Polônia, Varsóvia.

No entanto, a situação fica fora de controle quando um grupo de HBTfóbicos violentos – retratados vestindo uniformes militares cinza e agitando bandeiras polonesas – ameaçam o desfile.

O herói os afasta com uma bandeira do Orgulho, acrescentando: "Eu tenho que agir rapidamente antes que o sangue corra nas ruas!"


O editor de Fantomen, Mikael Sol, defendeu a edição, dizendo ao site sueco Expressen: "Eu achei que era um símbolo bonito, com a bandeira colorida, que significa tolerância, contra o vilão de cor cinza que representa a intolerância.

"Entendo claramente que a capa é controversa, mas às vezes você precisa se sentir confortável e seguro em sua escolha."

Sol acrescentou: “Sempre há alguém que reage [negativamente, mas] no geral, houve uma resposta positiva.

"Acho que as pessoas deveriam ler antes de terem uma opinião sobre isso."


Ele acrescentou: "O Fantasma sempre fará a coisa certa e permanecerá do lado dos oprimidos.

"Pode ser contra empresas que arruinam o meio ambiente ou erradicam espécies animais para obter ganhos econômicos, e pode ser combater o tráfico de escravos ou defender a liberdade religiosa."

A história em quadrinhos parece ter sido parcialmente inspirada por relatos reais de violência em eventos anteriores do Orgulho em Varsóvia, que se acredita terem sido perpetrados por nacionalistas de extrema-direita.

A HQ não caiu bem na mídia polonesa, no entanto.

A emissora polonesa Telewizja Republika atacou o gibi alegando que perpetua estereótipos da Polônia como intolerante.
A emissora twittou: "A última edição sueca de 'the Phantom' está despertando emoções nas redes sociais.

"Os escritores decidiram enviar o super-herói para a Polônia, a fim de defender uma Marcha do Orgulho Gay contra os perversos nacionalistas poloneses.

"Eles deveriam ter enviado o Capitão Suécia."

Em um vídeo em inglês, a emissora acusa a Suécia de tentar ser "a vanguarda do movimento global de justiça social" e de retratar o povo polonês como "selvagens agressivos".

'Capitão Suécia',
segundo os HBTfóbicos poloneses
A emissora continuou compartilhando imagens HBTfóbicas e transfóbicas criadas como parte de um meme de extrema-direita para zombar da Suécia, mostrando um 'Capitão Suécia' em meias arrastão.

A intolerância em relação às pessoas DSR na Polônia tem sido uma questão importante no país, que fica atrás de muitos de seus vizinhos quanto aos direitos DSR.

A Polônia não reconhece uniões do mesmo sexo ou adoção homoparental e, embora as pessoas DSR tenham proteções legais contra discriminação exigidas pela União Europeia, o estigma é comum no país.

O Eurobarômetro 2014 constatou que a discriminação anti-"LGBT" na Polônia está entre as mais altas da Europa.

Eurobarômetro 2014
Pesquisas de 2017 encontraram uma oposição esmagadora às reformas por direitos DSR no país, com 80% contra a adoção por casais do mesmo sexo e 57% contra a igualdade de casamento.*


Fonte: A comic book that sees a superhero defending a Pride parade from violent homophobes has stirred anger in Poland.

* N/T: Mesmo agora em 2020 não houve melhorias quanto a igualdade de direitos de pessoas DSR na Polônia, pois ainda não se reconhece casamento igualitário, adoção por pais ou mães do mesmo gênero ou proteção contra discriminação HBTfóbica em geral, e a população continua majoritariamente contra esses direitos humanos básicos quando se trata de pessoas DSR. (Fonte) Então, sim, a Polônia é um país profundamente INTOLERANTE.

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